VOLEIBOL CONQUISTA ESPAÇO PRÓPRIO
NO CLUBE DE FUTEBOL «OS BELENENSES»
 

A festejar uma década de existência, o Voleibol feminino do Clube de Futebol «Os Belenenses», que fez regressar a modalidade ao clube após um hiato de 35 anos, apoia-se na formação e no apoio crescente dos adeptos para começar a perseguir, de uma forma mais pertinaz, um sonho antigo: o título de campeãs nacionais.
O melhor argumento, e o que torna o Voleibol neste clube de 94 anos diferente, como apregoa o slogan do clube, é a grande união atletas/treinadoras, a relação de cumplicidade com os pais e, sobretudo, a empatia com os adeptos, que começa a dar os seus frutos.

Luís Filipe Rodrigues Bettencourt, sócio n.º 736 do clube da Cruz de Cristo, é o Vice-Presidente para as modalidades.
Após ter sido árbitro internacional, Presidente da AV Lisboa, dirigente de clube, etc., num percurso que segue no Voleibol há aproximadamente 40 anos, Luís Bettencourt é o grande impulsionador da modalidade no seu clube de eleição.



Como é ser responsável pelas modalidades num clube tão ecléctico como o Belenenses?

LUÍS BETTENCOURT: “É complicado, pois são muitas modalidades. Quando vim para a Direcção, tinha só o Voleibol. Neste momento, tenho as modalidades quase todas, com excepção do futsal e do andebol, se bem que algumas são autónomas. Sem ser directamente responsável, acompanho também o futebol juvenil. Tenho que estar cá o dia todo e isso é desgastante”.


E como se insere o Voleibol, entre modalidades neste momento talvez mais mediáticas?


LB: “Em dez anos, temos vindo a ganhar um espaço próprio no clube.
Na época passada, fomos a modalidade mais bem classificada [5.º lugar] nos campeonatos nacionais e as pessoas começaram a gostar mais do Voleibol.
O Voleibol ocupa já um lugar extremamente interessante no clube. Conseguimos ter sócios a assistir a jogos das iniciadas, o que é muito importante e é quase incrível num clube que está tão ligado ao futebol.
Há sócios que eu sei que são «futeboleiros» a darem os parabéns às treinadoras porque as miúdas estão a jogar já com a mentalidade das seniores. E isso é extremamente importante e temos vindo a conquistar o nosso lugar.
A primeira modalidade amadora é o andebol, depois aparece o futsal, mas em termos de promoção dentro do clube creio que conseguimos ultrapassar o futsal e que neste momento estaremos já em segundo lugar”.


Sendo como que o pai e a mãe da modalidade no clube, como é que viu esse crescimento?


LB: “Este projecto começou só com a equipa de seniores; na época seguinte juntámos as juniores e temos conseguido crescer bastante. No ano passado, fomos o clube de Lisboa com mais jogadoras inscritas na formação. Conseguimos bater até o CV Oeiras e a própria Lusófona VC em jogadoras inscritas.
Isto é muito difícil num clube que não tem condições para treinar. Neste momento, utilizamos três ou quatro pavilhões para treinar fora, pois o Pavilhão Acácio Rosa está sempre ocupado com treinos dos seniores de outras modalidades.
Só que o clube tem uma imagem e um carisma. Recebe bem as pessoas, que começam a jogar e depois não querem deixar o clube.
Dentro do crescimento previsível com as condições actuais, é complicado, mas conseguimos registar um crescimento anormal, digamos, e neste momento temos escalões com 25 e 27 atletas. Se pudéssemos treinar no Restelo, se calhar teríamos crescido muito mais”.


O futuro de modalidades como o Voleibol passa pela formação?


LB: “Neste momento, sim, mas o nosso projecto é de longo prazo. Temos uma equipa bastante alta de iniciadas, que daqui a dois ou três anos poderá dar os seus resultados até na própria equipa de seniores.
Agora, é necessário manter as jogadoras, pois o Voleibol na I Divisão é uma imagem do clube até para as mais pequenas. Temos conseguido criar um bom ambiente; as nossas treinadoras são jogadoras das seniores e isso também consegue fazer com que as miúdas adiram ao projecto e continuem a trabalhar cada vez mais.
E fizemos uma coisa que é fundamental: conquistámos os pais e ao conquistá-los eles passaram a ser todos apoiantes do Voleibol do Belenenses... mesmo que alguns não sejam adeptos do clube”.


Depois de uma vida quase toda dedicada ao Voleibol como é possível sentir ainda essa paixão pela modalidade?

LB: “Eu estou no Voleibol do Belenenses, primeiro, porque gosto do clube. Integrar a Direcção era um sonho que eu tinha e que se está a tornar quase um pesadelo porque é insuportável gerir as responsabilidades que eu tenho.
Ter Voleibol no clube é muito importante. De ano para ano, penso que vou desistir, mas depois o ambiente é tão bom, as jogadoras estão tão «em volta de mim», como eu costumo dizer, que é muito difícil acabar com isto.
Não há mais ninguém aqui no clube que leve isto para a frente e tenho a certeza de que muitas jogadoras acabariam por deixar de praticar a modalidade.
Não sei qual vai ser o meu futuro, mas até sair do clube vou tentando aguentar as pontas para conseguirmos levar o Voleibol para a frente"...


"Se queres ser diferente, faz-te... sócio do Belenenses!". O que torna o Voleibol do Belenenses diferente do de outros clubes?

LB: “Creio que é a relação treinadora/jogadora, que é muito boa; é a amizade, é as pessoas sentirem-se bem e como parte integrante do clube. E temos uma certa vantagem porque os pais gostam do trabalho que estamos a fazer e aderem com entusiasmo às nossas iniciativas.
Por exemplo, no ano passado fizemos uma festa de Natal, de encerramento da época, onde consegui juntar 135 pessoas. Toda a gente está aqui porque gosta de Voleibol”.


Como dirigente, há ainda algum sonho que gostaria de ver realizado no Voleibol?

LB: “Gostaria de ser campeão nacional, em qualquer escalão. Sermos campeões nacionais significaria a cereja em cima do bolo. Da forma como estamos a trabalhar, acredito que, dentro de mais três ou quatro anos, isso será conseguido.
Em relação às seniores, elas não são profissionais. Estão aqui porque gostam disto. É preciso não esquecer que 70 a 80 por cento delas trabalham e ainda treinam das 21h30 até perto das 23h15, uma hora a que ninguém treina, e muitas vezes depois de darem treino nos outros escalões. Mas conseguimos ter 12 a 14 jogadoras por treino e com vontade de lutar por permanecerem na I Divisão!
Se eu conseguisse ser campeão nacional de seniores, isso seria de facto um sonho tornado realidade, mas isso não vai acontecer nos próximos 4 ou 5 anos.
Era isso que eu mais desejava, sem entrar em loucuras, pois não podemos ir buscar ninguém a peso de oiro ou estrangeiras, nem pouco mais ou menos”.





 Daniela Loureiro: “A união do grupo é
 cada vez maior em todos os escalões”



Daniela Loureiro é um bom exemplo da versatilidade de uma atleta de Voleibol, cujo percurso incluiu ser campeã nacional de juniores em Voleibol de Praia (2004 e 2005) e jogadora da Selecção Nacional de Indoor. Actualmente, de Cruz de Cristo ao peito, é jogadora da equipa de seniores femininos e treinadora das iniciadas.
 

Como é conciliar a função de treinadora das iniciadas com o facto de ser jogadora das seniores?

DANIELA LOUREIRO: “Não é fácil, porque damos o treino às miúdas e depois vamos nós treinar, mas é com imenso prazer que o fazemos, pois gostamos de dar formação e adoramos jogar.
Eu e a Brígida [Ferreira] estamos com a equipa de iniciadas e tentamos gerir tudo o melhor possível. É sempre complicado porque temos de conciliar treinos e jogos, os nossos e os delas, mas é algo que nos dá imenso gosto”.


Neste momento, a equipa de iniciadas é seguida com particular atenção pelos adeptos do clube...


DL: “Esta equipa tem conseguido alguns resultados e sobressaído pelas vitórias.
Normalmente, quando uma equipa tem vitórias, ganha adeptos. Acho que foi um pouquinho isso que aconteceu, felizmente, porque elas trabalharam e trabalham duro e sempre com muita vontade, pois querem muito aprender, e cada vez mais, sobre o Voleibol. E tentam nunca faltar aos treinos, por isso é que esta equipa ganha todo este mediatismo, entre aspas”.


Ajuda o facto de a treinadora ter acompanhado o percurso delas desde novinhas?


DL: “Ajuda sempre um pouco, mas tudo o que é em excesso também faz mal. Não acredito que continuando por muitos anos possa dizer que é muito bom. Se calhar, não é. Penso que três ou quatro anos é o ideal para elas estarem com o mesmo treinador e eu já estou com esta equipa há três anos, em minis, infantis e iniciadas.
Claro que acompanhando-as de perto desde minis, nós podemos cobrar agora, por assim dizer, o que já ensinámos antes. Todo este processo até aqui é mais facilitado porque sabemos aquilo que ensinámos”.


Existe a responsabilidade de a treinadora ser vista como uma atleta modelo para as jovens?


DL: “Tanto no meu caso, como no da Brígida, acho que elas querem seguir-nos um pouco. Não só a nós, mas à equipa de seniores. Elas vêm nas seniores um modelo a seguir, essencialmente pela união, pela dedicação, pelo gosto pela modalidade que conseguimos transmitir, e sempre que podem falam sobre isso, comentando o que nós fizemos nos jogos das seniores, o posicionamento, a atitude, o querer vencer”.


E ser jogadora da Selecção Nacional, vêem isso como um objectivo futuro?


DL: “Elas só há pouco tempo é que souberam que eu jogava na Selecção. O facto de começarem a ganhar aguçou-lhes o interesse de procurar saber mais sobre a modalidade. Claro que gostaram imenso de saber que eu jogava na Selecção e agora perguntam sempre quando é que podem ver-me a jogar.
É bom terem uma referência ao mais alto nível, até para elas começarem a ver mais a Selecção Nacional e o nosso Voleibol”.


Para uma treinadora, o que é mais importante receber em resposta destas atletas, tendo em conta a sua idade?


DL: “Acima de tudo, o mais importante é elas gostarem de estar, gostarem da modalidade, pois o Voleibol não é muito fácil de ensinar e não é de fácil aprendizagem.
O que nos dá mais gozo, é elas chegarem sem sequer saberem tocar na bola e atingirem um nível em que querem continuar a aprender, a fazer cada vez melhor e gostarem cada vez mais da modalidade em si. Acho que isso é o melhor que poderemos tirar do que elas nos dão”.


O que é que faz a força do Voleibol no Belenenses?


DL: “Eu não joguei nem fui treinadora em muitos sítios. Apenas joguei no SC Espinho, no SC Arcozelo e depois vim para cá. Estou cá há cinco anos e sinto que cada vez mais a união do grupo é cada vez maior em todos os escalões. Talvez porque as infantis vão ver as iniciadas, as iniciadas vão ver as cadetes e as cadetes vão ver as infantis ou as minis. Se puderem, estão sempre prontas para ajudar. Ou seja, toda esta ligação é super-importante e faz com que o Voleibol no Belenenses cresça. As festas de jantares de Natal, de Fim-de-Ano, o querer serem elas a treinar na praia, todas juntas, isso faz o crescimento do Belenenses e do Voleibol, o que é óptimo.
Acho que o que nos torna diferentes é sem dúvida a ligação treinadores/pais, pois os pais têm estado a 300 por cento connosco. Os directores, bem como toda a gente que está presente nos treinos e nos jogos, estão ligados e todos se conhecem. Há um conhecimento de todos os escalões, de todas as partes e isso é espectacular”.





 Carlos Teodoro: “É muito gratificante trabalhar
 com elas e ver a sua evolução enquanto pessoas”



Carlos Teodoro é o Coordenador da Formação, sendo ainda o treinador das juniores.


O trabalho que tem vindo a ser desenvolvido na Formação está a dar os seus frutos?

CARLOS TEODORO: “Está a relançar o Voleibol no Belenenses. É um projecto que começou há aproximadamente 9 anos e nos últimos 3, 4 anos consegue ter todos os escalões em funcionamento. Começámos com o projecto de seniores e depois fomos avançando escalão a escalão.
É um projecto que já chegou a um ponto de maturação e que, agora sim, poderá já começar a desenvolver um trabalho de qualidade e a obter alguns resultados que têm aparecido de uma forma esporádica e ainda sem muita consistência”.


Neste momento de crise, ainda mais difícil para as modalidades amadoras, como é possível atrair e cativar tantas crianças e jovens?

CT: “O Belenenses está inserido numa zona residencial de classe média/alta e não há praticamente nenhum clube federado nesta modalidade aqui nas redondezas. Devido a isso, temos um leque de procura bastante alargado. Para além disso, existe algum apoio por parte do clube e temos conseguido que o nosso orçamento para a Formação seja praticamente garantido pelas receitas, de modo a que não haja uma grande preocupação em termos de patrocínios para a Formação”.


Nos últimos anos têm registado um aumento de atletas; a quantidade de atletas é um objectivo?

CT: “A quantidade foi um objectivo até agora. O projecto do Belenenses está perfeitamente estruturado e solidificado e, a partir de agora, o principal objectivo é nitidamente a qualidade.
Crescemos todos os anos de uma forma sustentada. Possuímos uma base muito alargada na Formação, sobretudo nos escalões de iniciação. Há mais de cem miúdas a praticar Voleibol nas minis, infantis e iniciadas e, por isso, penso que estão lançadas as bases para começarmos a trabalhar mais qualitativa do que quantitativamente.
Em termos regionais, temos obtido alguns resultados e, esporadicamente, uma ou outra presença numa fase final nacional, mas tenho a certeza de que daqui para a frente vão aparecer mais e melhores resultados”.


Para o Coordenador da Formação, quais foram os pontos altos do trabalho desenvolvido?

CT: “Conseguir estruturar o projecto de modo a que implantação fosse uma realidade foi o principal. Quando cheguei ao clube, havia dois escalões de formação a funcionar, tínhamos perto de 40 miúdas, e ao fim de seis anos temos já todos os escalões, com 180 miúdas. Estamos perfeitamente estruturados de forma a arrancar de uma forma mais capaz de conseguir resultados. Além disso, tem sido também um ponto assente do Belenenses conseguir que todos os anos algumas atletas da formação integrem a equipa.
Ou seja: este projecto de formação é válido porque temos uma equipa de seniores forte, que compete no Campeonato Nacional da I Divisão e alcançou bons resultados, tendo sido sexta e quinta classificada nas últimas épocas... Vamos a ver o que este ano nos reserva.
Mais do que formar campeões, neste momento estamos a formar pessoas, depois vamos formar atletas e a partir daí, então sim, tentaremos formar campeões”.


É um trabalho gratificante, ver o crescimento destas crianças e jovens, em termos desportivos e de personalidade?

CT: “É muito gratificante, primeiro, trabalhar com elas e, depois, ver a sua evolução enquanto pessoas e, obviamente, também enquanto atletas.
Eu, como treinador das juniores, apanho as atletas já num escalão mais velho, mas conheço-as quase todas desde o Mini-Voleibol e é giríssimo o acompanhamento que se faz do crescimento e da maturidade das miúdas em quatro ou cinco anos”.
 


Trabalhar com as raparigas é diferente de trabalhar com os rapazes?

CT: “Muito diferente. Eu antes de vir para os femininos, trabalhei com seniores masculinos, como treinador adjunto na Divisão A2, e foi uma realidade completamente diferente.
Vir dos seniores para a formação já é diferente, passar dos masculinos para os femininos é algo difícil de explicar.
Aquilo que se faz no masculino não se pode de forma nenhuma fazer no feminino, pois é muito menos competitivo, em qualquer escalão. Foi uma adaptação difícil mas igualmente gratificante para mim”.


Quais são os objectivos do Voleibol do Belenenses para os próximos anos?

CT: “Continuar a estruturar a equipa sénior de modo a obter cada vez mais e melhores resultados e na formação conseguir ter cada vez mais presenças e assiduidade em fases nacionais.
Vamos continuar a trabalhar para todos os anos conseguirmos dispor de uma ou duas atletas, pelo menos, para a equipa sénior, de modo a que daqui a quatro ou cinco anos consigamos ter a base da equipa sénior composta por atletas da nossa formação”.


Sente que o trabalho realizado com a formação é visto com bons olhos mesmo por aqueles que não estão ligados directamente ao Voleibol?

CT: “Temos a sorte de a estrutura que está por trás de nós ser diferente da de outros clubes. Não somos apenas um clube de Voleibol, temos várias modalidades e nos jogos que disputamos em casa temos sempre público a apoiar.
Temos tido um background muito agradável da parte da Direcção do clube e também da parte de adeptos, simpatizantes e associados do clube.
Captámos cada vez mais pessoas para assistir aos nossos jogos. Umas já sabem as regras, outras nem por isso, mas o que é certo é que estamos a conseguir trazer alguns adeptos do clube e do futebol para o pavilhão e para o Voleibol.
O Belenenses é um clube de pessoas já com alguma idade e é engraçado ver os adeptos a apoiar as mais pequeninas, vê-los a vibrar com as infantis e com as iniciadas e depois muitas vezes a ficarem para os jogos da equipa sénior”.

 



 Fabiana Silva: “Sem uma boa base, não podemos
 ter o futuro que toda a gente ambiciona”

 

Fabiana Silva assume-se de corpo e alma treinadora do Mini-Voleibol, um mundo que descobriu recentemente.


Uma atleta que pertenceu às selecções nacionais de indoor e de praia a treinar as camadas de iniciação... parece um pouco um regresso à infância...

FABIANA SILVA: “Sim, eu revejo-me como uma criança em cada uma delas. É por isso que continuo a gostar de treinar. Aliás, todos os dias estas atletas justificam o facto de eu estar com a formação.
Nunca pensei em ser treinadora; pensei sempre em ser jogadora. Pensava sempre em ser a maior jogadora do mundo...
Não sou a maior e nem por sombras a melhor, mas tento ser a melhor treinadora, que é naquilo em que posso fazer a diferença”.


E qual é, até agora, o balanço como treinadora?

FS: “Estou a entrar na minha segunda época nesta casa e considero que o trabalho tem sido muito positivo até agora. O nosso objectivo principal é angariar atletas, incutir-lhes o gosto pelo Voleibol, fazer com que elas tenham práticas desportivas saudáveis. Não interessa só incutir-lhes a competição e o ganhar, o mais importante é ensinar-lhes a serem boas atletas e sobretudo boas pessoas, depois sim, vem o ganhar e o perder, o riso e o choro, que são consequências do jogo”.


Nesta idade, qual será a qualidade mais importante numa jogadora?

FS: “Sem dúvida, a vontade de querer aprender e a sua dedicação aos treinos e à modalidade. Nota-se imenso a sua dedicação e isso é muito importante para os pais, que são um factor externo nestas atletas. Se elas não vêm aos treinos, é porque eles não podem ou não as deixam, não é porque elas não queiram e essa é uma das nossas regras: só estão aqui as que querem realmente praticar Voleibol”.


Qual o escalão que mais a marcou, como treinadora?

FS: “Eu ainda não tive outro escalão que não fosse os minis, nem no Castelo da Maia GC nem aqui. Aliás, eu nunca acreditei que viesse a ser treinadora, pois pensei sempre que seria uma má treinadora. Vim a descobrir que isso provavelmente está errado e que o Mini-Voleibol poderá ser o meu futuro.
Em relação aos outros escalões, não sei se me vou dar bem ou mal. Sei que neste momento ainda não estou preparada para dar esse salto”.


É mais fácil trabalhar com os miúdos do que com os graúdos?

FS: “Não é nada fácil! É uma grande responsabilidade, pois temos a base do Voleibol connosco. Se nós não dermos uma boa base a estas atletas, não vamos ter o futuro que toda a gente ambiciona.
Treinar as minis é tão difícil como treinar uma equipa sénior da I Divisão”.


Ao que pudemos assistir, os treinos são muito variados. É uma forma de cativar o interesse das crianças?

FS: “Ao princípio, sim. Elas estão aqui para serem atletas, para terem uma educação desportiva e para terem uma educação para a saúde positiva, é verdade, mas também precisam de ter capacidades coordenativas de velocidade, de disponibilidade, que são extremamente necessárias para o Voleibol. Daí o início do treino ser extremamente versátil e diversificado, com imensas actividades que não estão implícitas no Voleibol, mas que poderão ajudar depois na prática futura”.


Pessoalmente, o que é que o Voleibol lhe trouxe?

FS: “Trouxe-me a construção enquanto pessoa, trouxe-me muitas alegrias e muitas tristezas, ajudou-me a ver as coisas de uma forma diferente. Como eu referi, queria ser uma grande jogadora; não o sou, mas posso ser outra coisa grande dentro do Voleibol.
Entrei para o Voleibol com 12 anos, não passei pelos minis e pelas grandes evoluções da formação, pois fui sénior quando era juvenil, tive uma evolução muito rápida.
Ainda não vi nenhuma jogadora que me faça lembrar como eu era. Mas também não quero isso, quero que cada uma seja igual a si própria e acredito que será assim que elas se tornarão grandes jogadoras”.
 


O que é que significa, para si, o Belenenses?

FS: “O Belenenses significa o acreditar novamente no Voleibol, porque se não fosse o Belenenses neste momento eu não estaria a praticar Voleibol, nem muito menos a dar treinos.
Vim a descobrir que o Voleibol tem outro sabor, tem alegria, tem amor e dedicação, tem tudo e é através do Mini-Voleibol que eu tento passar isso às atletas e aos treinadores, adeptos e encarregados de educação.
É uma segunda família, até porque a minha está muito longe”...





 Rita Fernandes: “Conseguimos ganhar
 o carinho dos sócios”



Rita Fernandes é jogadora das seniores do CF «Os Belenenses»/Blue, sendo a sua capitã, mas, como várias das suas companheiras de equipa, acumula essas funções com a de treinadora das cadetes.


Como é conciliar o facto de ser treinadora das cadetes, jogadora das seniores e, ainda, capitã de equipa?

RITA FERNANDES: “Não é fácil. Tentamos adaptar os treinos das seniores aos horários das equipas de formação, pois há jogadoras que treinam esses escalões. Às vezes, temos de mudar de pavilhão e torna-se difícil chegar a horas ao treino, que normalmente é às 21h30, mas com boa vontade tudo se faz e vai dando sempre para conciliar”.


Como vê o trabalho desenvolvido nos escalões de formação no sentido de municiar a equipa de seniores?

RF: “É uma preocupação do Belenenses, há já três ou quatro anos, tentar que as atletas da formação tenham alguns atributos técnicos e tácticos que permitam a sua integração na equipa sénior.
Inicialmente, houve uma preocupação quanto ao volume, à quantidade de jogadoras. Agora, não, preocupamo-nos mais em ganhar qualidade, exactamente para poder alimentar a equipa sénior. Temos duas jogadoras provenientes da formação, mas creio que com o tempo serão mais as jogadoras que chegarão à nossa equipa”.


O futuro da equipa sénior estará assegurado?

RF: “Eu penso que sim. Nas juniores, que treinam muitas vezes connosco, já vemos alguns valores, que vêm das juvenis. A equipa de cadetes já é uma equipa formada com essa visão de atingir as seniores e, tal como as iniciadas, já fornecerão alguns valores. Resta-nos esperar um pouco mais para colhermos esses frutos”.


Esta época, o percurso das seniores na I Divisão não começou da melhor maneira...

RF: “Em Lisboa, debatemo-nos com uma dificuldade, que é fazer uma pré-época competitiva. Não temos a rodagem que têm equipas como o Colégio do Rosário ou o Leixões, por exemplo, que fazem muitos torneios no Norte. Nós fomos algumas vezes ao Norte, para fazer alguns jogos, mas é diferente, pelo que a nossa entrada no campeonato é em termos de competitividade sempre um bocadinho abaixo da das outras equipas.
Por azar, calharam-nos logo nas primeiras jornadas as equipas mais fortes do campeonato. Vamos ver se recuperamos daqui para a frente, pois não vamos desistir da nossa luta pelos lugares cimeiros”.

 

O que é que distingue o Belenenses de outros clubes?

RF: “Estive já noutros clubes ligados ao Futebol e o Belenenses tem uma massa associativa que adora e venera o clube e não apenas uma modalidade.
Acho que nós já conseguimos ganhar uma posição dentro do Belenenses, ganhar o carinho dos sócios. Praticamente todos os que estão ligados ao Voleibol nos conhecem e nos apoiam. É um clube obviamente virado para o Futebol, mas com muito carinho pelas modalidades de pavilhão”.



 


 António Rodrigues: “Há que valorizar muito
o trabalho que o clube tem feito”



António Rodrigues
é o novo treinador das seniores. Após vários anos afastado do Voleibol, o antigo seleccionador nacional regressou à acção e confessa ter admiração pelo trabalho que o clube da Cruz de Cristo tem vindo a realizar.


O que é que leva um treinador que já foi campeão nacional em seniores masculinos [época de ouro do Sporting CP] e seleccionador nacional no mesmo escalão a abraçar um projecto de femininos?

ANTÓNIO RODRIGUES: “Uma grande paixão pela modalidade e a amizade que eu tenho há já muitos e muitos anos a algumas atletas que estão aqui, nomeadamente a Rita [Fernandes], a Marta [Godinho].
Após longos anos afastado do Voleibol, um amigo, o Luís Bettencourt, que é a pessoa no clube que eu conheço há mais tempo, convenceu-me a voltar, mas tenho sentido muitas dificuldades, devido aos meus compromissos profissionais fora do Voleibol.
Como a equipa treina a horas impróprias para praticar qualquer tipo de modalidade competitiva e de alta competição, eu consegui adaptar-me, mas é extremamente difícil e desgastante”.


Como analisa o trabalho desenvolvido por um clube que «teima» em movimentar tantas modalidades e em apostar na formação?

AR: “Fico muito contente pelo que o Belenenses tem vindo a realizar no Voleibol. Este ano um dos objectivos é consolidar o trabalho anterior. Penso que há que valorizar muito o trabalho que o clube tem feito pois implica um esforço muito grande das pessoas que cá estão e daquelas que já saíram, nomeadamente o Prof. Afonso Seixas e a sua equipa técnica, e todo o apoio que deram nestes últimos anos.
Agora, é preciso consolidar esse trabalho e o Belenenses tem de pensar em criar condições para poder trabalhar em termos de qualidade e não só em termos de quantidade.
Há uma equipa na I Divisão e temos de ter expectativas para chegarmos mais longe. Ultimamente, não temos sido muito competentes na nossa prestação, mas acredito que isso vai mudar, pois o grupo é extremamente competitivo, trabalhador e quer chegar longe”.


No que diz respeito apenas ao Voleibol, o que considera que ficou por realizar?

AR: “Há sempre sonhos por realizar e há sempre muita coisa ainda por fazer. Estive seis ou sete anos sem treinar nenhuma equipa. Estive na Lusófona e conseguimos levar a equipa à I Divisão, depois tive de sair e agora estou no Belenenses e vou tentar contribuir para que o Belenenses chegue o mais alto possível, procurar dar oportunidades a mais jovens, tentar ensinar o pouco que sei a alguns jovens e a novos treinadores e aproveitar ao máximo esta experiência”.


Até onde pode ir a equipa de seniores?

AR: “Se houvesse condições para termos jogadoras profissionais e para podermos, em termos de futuro, conciliar as actividades desportivas com as actividades profissionais das atletas, poderia ir muito longe, tal é o empenho destas atletas.
Agora, é extremamente difícil ver estas atletas trabalharem todos os dias até às 23h30, sempre muito empenhadas, mas sem auferirem qualquer vencimento.
Apesar de no Belenenses conseguirmos ter bastantes elementos envolvidos, entre encarregados de educação, treinadores e pessoas que nos apoiam, a crise económica existe e são muitas as dificuldades para manter isto de uma forma digamos mais profissional”.


Dezembro 2013


 

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