CONQUISTA DA TAÇA DE PORTUGAL FOI O 10.º TÍTULO NACIONAL EM APENAS CINCO
ANOS
AJM – ACADEMIA DE JOGADORAS MAGNÍFICAS
Podiam apelidá-la de «fábrica de títulos» ou de «escola de formação», mas a
Academia José Moreira não se esgota aí e promete mudar o Voleibol feminino.
A diferença começa logo no seu fundador, «Prof. José Moreira», como é hoje
conhecido um dos maiores jogadores portugueses de todos os tempos, que deu o
nome ao clube há pouco menos de cinco anos.
Apesar do seu estatuto e da sua vasta experiência como jogador e treinador,
o mentor da AJM soube valorizar as ideias novas e a irreverência da
juventude.
No pavilhão do Centro Luso Venozelano, em Nogueira de Regedoura, Santa Maria
da Feira, tão perto de Espinho e Esmoriz quanto longe dos grandes centros de
Voleibol nortenho, valoriza-se o trabalho de excelência, de e com
treinadores jovens, com métodos e ideias novas, mas põe-se a ênfase na
vontade das atletas, o que nos leva a entender o trocadilho AJM – Academia
de Jogadoras Magníficas.
Na vitrina dos êxitos, e até ao momento, são já 12 os títulos regionais e 10
os nacionais, o mais recente dos quais a Taça de Portugal 2018/2019, em
seniores femininos.
Muitos troféus para tão pouco tempo de existência fazem com que a sala de
troféus ainda esteja em embrião.
E, no entanto, a receita para o êxito da Academia José Moreira parece
simples e de fácil confecção:
Misture-se doses iguais de ambição e realismo, junte-se uns pozinhos de
irreverência e ideias novas próprias da juventude e mexa-se tudo enquanto se
polvilha q. b. um elixir de cinco décadas de experiência (como jogador e
treinador) e as equipas em formação estão prontas para ir ao forno e
conquistar 10 títulos nacionais e 12 regionais mais rapidamente que uma
mão-cheia de anos.
José Moreira: “O nosso grande papel é desenvolver e ensinar”
É
o próprio José Moreira, criador, mentor e dirigente da AJM, o primeiro a
fazer-nos um balanço dos precoces cinco anos de existência:
JOSÉ MOREIRA: “Nestes cinco anos, e por aquilo que
conquistámos e desenvolvemos a nível nacional, o balanço é muito positivo.
Não é só pelos nove títulos nacionais [dez com a Taça de Portugal –
femininos 2018/2019] e doze regionais que já conquistámos, mas por todo o
trabalho desenvolvido, por aquilo que já demos e ajudamos o Voleibol
nacional, que esse é que era o objectivo prioritário”.
Como é que se consegue tantos títulos em tão pouco tempo?
JM: “Quando montámos a Academia, uma das coisas que nos disseram foi
que nós tínhamos um trabalho de excelência e colocámos exactamente isso a
funcionar, com treinadores de qualidade e, acima de tudo, dentro da
experiência que eu e os outros treinadores temos, tentar desenvolver
essencialmente na parte técnica um trabalho que nos desse essa valorização,
o sucesso, que é a conquista de campeonatos, naturalmente, mas acima de
tudo, um desenvolvimento progressivo de atletas para que no futuro possam
ser bons jogadores de Voleibol”.
Podemos afirmar que criou um clube à imagem de como José Moreira,
reconhecidamente um dos melhores jogadores portugueses de sempre, antigo
seleccionador e actual treinador, vê o Voleibol?
JM: “Sem dúvida que algumas coisas são minhas, mas sem a ajuda de
algumas pessoas, que compõem a Direcção e as nossas equipas técnicas, eu
talvez não conseguisse formar um clube com esta qualidade sozinho. Seria
difícil.
Com outras ideias, umas actualizações – porque eu também não sou só coisas
do passado – tive de me actualizar e ver o que é que as pessoas mais jovens
poderiam dar ao Voleibol nacional e para a construção do clube”.
No ponto mais alto da formação estão os seniores femininos, que falharam por
pouco a passagem à Elite e à luta pelo título…
JM: “O nosso objectivo para esta época era estarmos nos quatro
primeiros classificados da fase regular e atingir a Final 4 da Taça de
Portugal. Uma conseguimos e outra não. Estivemos quase… ficámos com a mesma
pontuação do quarto classificado, mas com menor número de vitórias do que o
GC Vilacondense.
Acredito que poderíamos ter feito um pouco melhor. Acho que a equipa tinha
um plantel para isso, mas sabemos que durante a época há azares,
imponderáveis que aparecem e que por vezes são difíceis de ultrapassar. Mas
o que interessa é que estamos no bom caminho”.
O clube e as equipas já estão num patamar superior. Não tem receio de elevar
ainda mais a fasquia?
JM: “Não. Esse é exactamente um dos objectivos. Eu fui habituado,
desde os meus 16 anos, a conquistar, a lutar sempre pelo primeiro lugar.
Pode ser que não fique no primeiro e seja segundo, mas não deixo de lutar.
Esse será um objectivo da equipa de seniores: não lutar apenas por um dos
quatro primeiros lugares, mas sim pelo título nacional”.
Actualmente, a AJM insere-se, sobretudo, no desenvolvimento do Voleibol
feminino…
JM: “Neste momento, sim. É uma questão um pouco polémica para mim
porque nós tivemos masculinos, com conquista de campeonatos nacionais,
essencialmente cadetes e juvenis. Tínhamos equipa de seniores onde iríamos
participar, mas, e embora não vá explicar o porquê, o que digo é que estou
mal localizado. Se a Academia tivesse este pavilhão noutros sítios,
naturalmente poderia ter outro tipo de formação, mesmo continuando com o
trabalho que fizemos nos masculinos”.
O que é que ainda há por fazer, quais são os objectivos para os próximos
anos?
JM: “Penso que no fundo há uma coisa que é fundamental: a Academia
está numa I Divisão feminina. Somos uma das equipas do concelho da Feira que
está na I Divisão, juntamente com o Feirense.
Se estivéssemos noutra zona do País, naturalmente o desenvolvimento poderia
ser outro. Não estou a dizer que não tenha apoios da câmara, porque tenho
alguns, a Junta de Freguesia de Nogueira de Regedoura também nos tem dado
algum apoio, mas quando um clube atinge um patamar e um nível bastante alto,
atinge com jogos de I Divisão na televisão, queremos mais, queremos que as
pessoas possam envolver-se mais, mesmo ao nível da população da região e é
nesse aspecto que nós temos sentido algumas dificuldades.
Há algum isolamento, posso mesmo dizer, algumas invejas, mas a própria
criação do clube inseriu-se nesse objectivo: fazer ver como se deve fazer.
Não estarmos à procura das eleições «porque o próximo, o que vem aí, é que
vai resolver os problemas”. Não! Estamos aqui para resolvermos os nossos
próprios problemas e só avançamos com aquilo que temos. Não com promessas,
mas sim com realidades”.
Ao longo deste percurso, qual foi o momento que mais lhe agradou?
JM: “Nestes quatro anos, todos os momentos me agradaram, porque em
todos eles conquistámos títulos, tivemos equipas desportivamente muito
saudáveis, técnicos excelentes.
No fundo, a maior satisfação da Academia é que quando os técnicos saem da
nossa formação vão para um patamar acima. Vão para uma I Divisão masculina
ou feminina. São técnicos que fizeram ver o trabalho deles e esse é que é o
nosso grande papel. É desenvolver e ensinar para que as pessoas possam
eventualmente progredir no seu trajecto”.
Pegando nas suas palavras, a AJM poderá ser visto como um modelo não só da
formação de atletas mas igualmente da formação de treinadores?
JM: “Sem dúvida. Nós até aceitamos estágios, quer de faculdades, quer
dos treinadores, por parte da Federação. Damos todo o apoio e tudo o que
sabemos, procuramos transmitir. Ninguém é infalível. Toda a gente tem os
seus erros de percurso, mas partilhar os nossos conhecimentos é um dos
nossos objectivos”.
É reconhecido por ter sido um dos jogadores mais importantes da história do
FC Porto na modalidade. Não sente um pouco de pena por o clube não ter
regressado ainda ao Voleibol?
JM: “É uma luta que eu tenho tido durante estes anos… Posso dizer que
um dos objectivos, quando abri a Academia, foi precisamente esse: um dia em
que o FC Porto abrisse, nós seríamos uma das escolas do clube. O futuro dirá
se haverá regresso. Pessoalmente, creio que já esteve mais longe…
Com segurança, com garantias, uma equipa bem organizada, porque é isso que
nós queremos demonstrar quando fizemos esta Academia. Demonstrar a
segurança, desde o ponto mais alto, seniores, até aos minis, porque isso é
fundamental para a estabilidade do clube”.
Pessoalmente, a José Moreira, o que ficou «por fazer» enquanto atleta e
treinador?
JM: “Não é fácil responder a essa questão. Ganhei títulos nacionais,
tanto com os masculinos como com os femininos.
Fui Seleccionador Nacional por 14 anos, na Federação. Estive sempre com as
camadas jovens, treinando dentro dos princípios do que achava e ainda acho
que deveria ser o Voleibol. Tivemos boas classificações, ganhámos poules de
qualificação, estivemos em fases finais do Campeonato da Europa e do Mundo.
Creio que foi um bom trabalho. E uma das coisas que me faltou na minha vida
desportiva foi ser um seleccionador dos seniores, cargo que foi ocupado pelo
meu filho, Rui Moreira, na Selecção Nacional de Seniores Femininos”.
Fátima Serra: “A nossa principal recompensa é a evolução dos atletas”
Fátima Serra é dinâmica, simpática, solícita e bem-disposta, ou seja,
aparenta ter todas as qualidades necessárias para uma das tarefas mais
árduas: lidar, interessar e cativar os mais pequeninos….
É
treinadora de minis e de cadetes. Podemos dizer que um trabalho complementa
o outro? E que tipo de recompensas traz para o treinador?
FÁTIMA SERRA: “Podemos dizer que é um trabalho que dá seguimento ao
outro. Estamos a preparar os nossos minis para conseguir uma formação no
seguimento do trabalho das cadetes. É uma formação dos minis para os
escalões que se seguem.
A principal recompensa no trabalho com os mais pequenos é a sua evolução.
Nota-se, principalmente quando eles estão numa fase inicial, no espaço de
menos de um mês que a evolução realmente é grande… quando eles querem, pois
quando são pequeninos o que eles querem é brincar. Estão sempre na folia,
mas quando querem conseguem já fazer alguma coisa do jogo propriamente dito,
neste caso de dois contra dois, e a esse nível é realmente recompensador
assistir à sua evolução”.
E como é que se consegue interessar e cativar os mais miúdos?
FS: “Eles gostam muito de jogar. Tudo o que tenha a ver com
competição, pontos, perder, ganhar, tudo isso é o foco deles. Por isso,
devemos numa fase inicial entrar um bocadinho pela brincadeira e depois
tentar agarrá-los pela parte do jogo.
Para além disso, aqui na AJM, tentamos sempre que os atletas da nossa
formação venham sempre ajudar, a dar bolas, nos jogos das seniores, que é
para também puxar um bocadinho esse interesse que irão ter de um dia
quererem ser jogadoras como as nossas seniores.
Por elas verem jogar e verem resultados, tentamos que eles acolham o gosto
pela modalidade”.
Em
cinco anos, a formação deu já um número interessante de títulos nacionais e
regionais. O «segredo» está no trabalho que desenvolvem na formação?
FS: “Isto não depende só dos treinadores. Basicamente, parte das
jogadoras, se elas não quiserem, nada se consegue. O treinador pode ser
muito bom mas se não houver um querer por parte delas, se elas não quiserem
trabalhar para alcançar os objectivos propostos, ou seja, esses tais
títulos, tudo se torna mais complicado”.
Como treinadora, quais são os objectivos que traça pessoalmente?
FS: “Começando pelos minis, o importante é interessar e criar a
formação, com o intuito de ir depois buscar para o escalão sénior jogadoras
da nossa formação e não de outros clubes.
A AJM deve crescer a partir da sua própria formação. Por isso é que é
importante fazer crescer a formação e só então alimentar a equipa sénior".
Apesar de ser uma treinadora ainda jovem, nota diferenças entre estas
miúdas e as do seu tempo?
FS: “São épocas diferentes, podem ser mais ou menos mimados, podem
gostar mais de brincar, mas isso continua a partir um bocadinho de casa, dos
pais, daquilo que eles vivem, das oportunidades que têm.
Pode ser diferente, mas creio que isso depende da família.
Somos poucos, mas somos como uma família. Neste momento, primamos pela
qualidade mas não pela quantidade, o que é difícil devido à nossa
localização. Mas o que tentamos é que todos se conheçam e se dêem bem e que
partilhem o gosto.
Nós queremos jogar e crescer no seio daqueles em que confiamos e com os
quais conseguimos partilhar os momentos, tanto bons como maus, dentro do
campo e é isso que acho que é necessário na modalidade do Voleibol. É
estarmos a jogar porque gostamos de o fazer".
Ricardo Lemos: “Montámos uma forma de jogar e de ser atleta de
Voleibol”
Ricardo Lemos, treinador das seniores*, é mais um dos jovens
em que o clube apostou e… ganhou. Realista, pesa os prós e os contras de uma
época em que, uma vez mais, a AJM somou troféus.
(*Ricardo Lemos deixou o cargo de treinador e a AJM em 11 de abril de
2019, após esta reportagem)
RICARDO
LEMOS: “Na Taça de Portugal, queríamos atingir a Final 4 e
acabámos por erguer o troféu. No Campeonato Nacional, apesar de não termos
integrado os quatro primeiros e a Divisão Elite, o 5.º lugar acaba por ser
positivo.
É claro que o facto de não termos atingido um dos nossos objectivos não é
motivo de satisfação. Sabíamos que estávamos com expectativas um bocadinho
elevadas, apesar de termos condições para isso”.
O trabalho realizado na formação dá garantias ao escalão máximo?
RL: “Acredito que uma das grandes vantagens que temos na AJM é o
trabalho contínuo na formação.
Nós montámos uma forma de jogar e de ser atleta de Voleibol.
Começamos com as minis, depois paramos um pouco com as cadetes por causa de
determinados objectivos técnicos e tácticos. A partir das juvenis começamos
a dar um panorama mais competitivo, com o modelo de jogo das seniores.
O trabalho que fazemos aqui na formação é com uma linha que nos leva até ao
escalão sénior. E mesmo as atletas seniores têm de ser um trabalho de
referência para a formação. E os escalões de Juvenis e de Juniores estão
muito próximos desse tipo de trabalho. Aliás, algumas atletas juniores já
estão a dar garantias no escalão sénior.
No ano passado já se sentia que a equipa sénior era um modelo para as mais
novas, mas este ano houve um salto muito grande e isso é mais notório quando
elas vêm treinar com as seniores, porque nós incentivamos isso.
O pressuposto que a equipa sénior teria de ser um ideal para os outros
escalões foi cumprido”.
Como é que define o trabalho que a AJM faz, tendo em consideração os
resultados surpreendentes em tão pouco tempo?
RL: “Eu definiria o trabalho sobretudo pela formação da atleta, que
nunca fica para trás, nunca passa à frente da parte técnica e táctica ou do
vencer ou perder. Aqui desde cedo que todas as atletas são educadas para que
sejam boas atletas, para que estejam presentes nos treinos, que trabalhem e
que cheguem ao fim-de-semana orientadas para a vitória, independentemente do
escalão. Porque o jogo acaba por ser o resultado do trabalho delas.
Mas para isso acontecer é necessário o trabalho prévio de formar a atleta e
a sua orientação pelo melhor caminho para saber estar num grupo, para tomar
as melhores decisões, e enquanto atleta poder crescer. Depois complementa-se
com o trabalho técnico, táctico e o jogo.
Para a próxima época, o primeiro objectivo na formação é termos os escalões
todos. Este ano não tivemos os escalões de infantis e iniciados, continuar o
trabalho das atletas que estão cá e torná-las o mais competitivas possíveis
e orientá-las no sentido de puderem integrar a equipa sénior”.
Bernardo Soares: “A pressão de ganhar é sempre positiva”
Bernardo Soares tem a seu cargo a equipa das juniores,
bem como das juvenis, campeãs em título.
Será
que podemos afirmar que treinar o escalão de juniores é um dos sectores onde
a responsabilidade pesa mais?
BERNARDO SOARES: “Não é descabido. Porque as atletas já são mais
velhas e pelo facto de o escalão a seguir ser o de seniores. Ou seja: têm de
estar preparadas para ingressar no escalão principal. Os objectivos também
são outros e mais altos e, no caso concreto, acresce o objectivo de
querermos fazer igual ao ano passado e só essa ideia traz responsabilidade,
tanto às juvenis como às juniores”.
Não conheço de forma profunda o trabalho que é feito nos outros clubes, mas
aqui treinamos de acordo com a nossa forma de jogar e também tendo em
consideração aquilo que o nosso adversário faz, os seus pontos fortes e as
suas lacunas. Depois, é muito treino, muita repetição, porque o Voleibol é
um jogo de repetição e só treinando muitas horas e muitas vezes é que nos
faz ganhar mais vezes do que perder”.
Esses e outros títulos já conseguidos não elevam ainda mais a fasquia para
os próprios técnicos?
BS:
“É verdade que termos ganho no ano passado traz responsabilidade este
ano, mas acho que é um pressão positiva, uma pressão boa, pois a pressão
para ganhar é sempre positiva e que nos faz trabalhar ainda mais no
dia-a-dia.
Neste processo, sem dúvida que para a Academia é uma mais-valia ter o
Professor José Moreira, pois foi um excelente jogador, é um excelente
treinador e pessoa, e está aqui sempre para nos ajudar”.
Como vê o contributo da AJM no desenvolvimento do Voleibol feminino
nacional?
BS:
“Creio que com o nosso trabalho na formação temos dado um contributo
muito grande, porque nas passadas selecções de Sub-16 e Sub-18 ingressaram
algumas atletas jovens, tanto da praia como de pavilhão.
Quanto a nós, estamos no Campeonato Nacional, nas juvenis estamos mais ou
menos dentro dos objectivos, nas juniores nem tanto, temos ir atrás do
prejuízo, mas nós sabemos o que temos de melhor e só com o treino é que lá
chegaremos. Vamos pensar jogo a jogo, temos menos margem de erro mas sabemos
o que temos de fazer para conseguirmos estar na fase final e depois
atingirmos o nosso objectivo, que é sermos campeões nacionais”.
Maria Miguel: “Quem vier para cá, vai-se divertir a treinar e a
jogar”
Maria Miguel «Migui» já foi a mais novinha das seniores e, agora, é a
veterana nas juniores.
Ao
subires ainda muito jovem às seniores, foste como que «lançada às feras». O
que sentiste?
MARIA MIGUEL: “Foi muito de repente. Foi um sonho. Estava habituada a um
ritmo e foi uma grande diferença. Era um ritmo mais rápido, mais trabalho,
mas achei giro porque mesmo sendo a bebé da equipa, senti-me como parte
integrante da equipa, sentia-me mesmo bem a treinar e a jogar com elas”.
Passaste de «bebé» das seniores para a «mãe» das juniores…
MM:
“É a primeira vez que estou a jogar com pessoas mais novas do que eu,
porque sou a mais velha da equipa e é um bocado estranho mas ao mesmo tempo
também engraçado.
Quando se forma uma equipa, quando há esforço e dedicação, quando corre tudo
bem está tudo em festa, quando corre mal umas apoiam-se às outras, é como se
fossemos uma mini-família dentro do campo, incluindo as que estão fora, que
também fazem parte.
Nota-se um bocado quando se vai de júnior para sénior principalmente porque
nas seniores há muito mais trabalho.
É bom conhecer pessoas novas, fazer novos amigos. De resto, o esforço e a
dedicação são os mesmos pois estende-se a todas as equipas a ideia de que
com trabalho poderemos atingir os nossos objectivos”.
Já estás cá há quatro anos, Apesar de seres ainda muito jovem, és já uma
veterana em termos de clube. O que é que mais te agrada na vivência de todos
os dias na AJM?
MM: “A equipa técnica está sempre presente e ajuda muito.
Os treinadores mostram dedicação, sente-se que fazem um trabalho para nós, e
quando cumprimos o trabalho há sempre recompensa. O ganhar jogos, conquistar
campeonatos é sempre uma recompensa.
Não basta esforçar-nos. É muito importante ter vontade e se tentarmos fazer
o trabalho todo direitinho vamos ter recompensas que valem muito a pena.
É um sentimento muito bom quando se ganha. Quando nos dedicamos, nos
esforçamos e trabalhamos em conjunto, há sempre resultados.
Para além disso, o senhor Magalhães e o professor Moreira, membros da
Direcção, estão sempre no pavilhão, o que não acontece com tanta frequência
noutros clubes.
As pessoas entram no pavilhão e vêem toda a gente cá dentro. Pela
experiência que eu tinha, não acontecia assim: no pavilhão eu via a minha
equipa não via muita gente a acompanhar-nos”.
Se tivesses de aconselhar alguém a vir para o teu clube, o que lhe dirias?
MM: “Diria que vinha para um clube em que toda a gente se apoia. Às
vezes poderá haver altos e baixos, mas conseguimos compensar. Às vezes
poderá haver momentos de maior tensão, mas conseguimos sempre ultrapassar. É
uma coisa gira. Ao vir para cá vai-se divertir a treinar e a jogar”.
Rui Moreira: “A AJM teve de conquistar a custo o seu espaço no
Voleibol nacional”
Rui Moreira seguiu as pegadas do seu pai no Voleibol.
O legado de José Moreira ainda está em plena «evolução», mas no início foi
preciso desbravar caminho para abrir alas para a AJM.
A
pergunta impõe-se: Como é que se conseguem tantos títulos em tão pouco
tempo?
RUI MOREIRA: “Se me perguntassem se há cinco anos eu imaginaria que
íamos estar aqui com um clube com esta dimensão e com tantos títulos
conseguidos em tão pouco espaço de tempo, eu diria que não. Não, porque
tivemos de fazer tudo do zero. Foi procurar um espaço, pintar o pavilhão,
ter de comprar o material, ter de construir as equipas. Depois, é todo um
processo, aparecem as equipas seniores. Paralelamente, vamos conquistando
títulos, tivemos equipas melhores ou piores, tivemos equipas que
conquistaram títulos e outras que não conseguiram conquistar nada.
Os êxitos conseguidos são a junção de muita coisa. Não foi só criar o clube
e ter estes atletas ou estes treinadores. Há cinco anos tomámos a decisão de
dar um passo grande e até foi uma decisão repentina, tomada de um dia para o
outro. Foi por alguma infelicidade profissional e por alguns dissabores que
tivemos de marcar a diferença e para tentar fazer algo diferente decidimos
que íamos dar este passo”.
Quais são as vossas prioridades?
RM:
“Há duas coisas que são importantes para nós: primeiro, o trabalho,
porque nós efectivamente treinamos muito. Temos de facto uma despesa
elevada, com a manutenção e o aluguer deste espaço, mas temos uma coisa boa,
é que o pavilhão é «nosso», pois se eu quiser vir treinar às seis da manhã,
eu venho. Tenho a chave do pavilhão e não tenho de pedir autorização a
ninguém. A segunda coisa, e creio que é um alicerce importante para nós, é
que o clube é gerido por treinadores. Ou seja, isto tem o lado mau da gestão
porque há muitas coisas administrativas e burocráticas, que nós não
percebemos e também temos de crescer com isso e procurar estudar e tentar
dominar essa parte da matéria, mas quem está à frente do clube são
treinadores ou pessoas que já foram treinadores e conseguem orientar o clube
para a parte desportiva. Nós aqui não temos pais de atletas na Direcção
propriamente dita, temos muitos pais que colaboram e que são importantes
para nós e que nos ajudam, mas não sofremos dos problemas inerentes de
estarmos sempre dependentes de certo tipo de decisões. Quem está à frente do
clube são os treinadores e todas as decisões são tomadas a pensar no treino
e no jogo. Acho que esses aspectos são realmente os mais importantes e a
nossa mais-valia, que, aliada ao trabalho, permite que ao longo destes quase
cinco anos tenhamos conquistado realmente alguns troféus”.
Ao longo da vossa curta existência foram conquistando o vosso espaço.
Qual é o papel que a AJM desempenha no Voleibol feminino nacional?
RM:
“A AJM teve de conquistar a custo o seu espaço no Voleibol nacional.
Começou com a formação. Foi um bocado um braço-de-ferro porque não é fácil
entrar num espaço que outros clubes já dominam e nos quais vingam e vencem,
e meter-nos no meio dessa luta desportiva saudável e tentar conquistar o
nosso espaço. E nós conseguimos. A seguir, apareceram as equipas seniores,
tanto feminina como masculina, com muita pena nossa tivemos de acabar com a
de masculinos porque não tínhamos número de atletas no sector masculino que
justificassem a manutenção de equipas, tanto da formação como de seniores de
masculinos. Não é fácil fazer frente aos clubes que já estão na modalidade
há mais anos, porque eles têm outras mais-valias, como a experiência, o
know-how, um currículo alargado, enquanto nós ainda estamos a conquistar o
nosso espaço, passo a passo”.
O futuro do clube está assegurado com o trabalho na formação?
RM:
“Não vou dizer que o futuro a Deus pertence porque aqui temos as coisas
bem delineadas, sabemos onde estamos e sabemos para onde queremos ir, os
passos que temos de dar.
Temos as coisas bem pensadas e os nossos objectivos estão bem alicerçados
com as nossas atletas e patrocinadores. Não estamos a caminhar em cima de
uma película de gelo que a qualquer momento pode quebrar. As coisas estão
sólidas e a partir do momento que temos isso, vamos poder ir até onde nós
quisermos.
No que respeita à formação, sabemos que não estamos num meio fácil no que
toca a esta zona. Não tem a vivência da modalidade como se calhar outras
cidades têm, e nós sentimos essa luta diária de tentar captar e recrutar
atletas. A parte do Voleibol de competição propriamente dito – não que os
escalões mais baixos não sejam competição, mas referindo-nos aos escalões de
seniores, de juniores e até de juvenis, penso que estamos mais cimentados e
isso depende sempre ter patrocinadores e de ter atletas de qualidade.
Nós podemos dar as voltas que quiseremos nas equipas seniores. Sim, sim, o
trabalho é importante, a estrutura, as condições, os treinadores, tudo é
importante, mas num patamar em que as pessoas já são remuneradas, se não
tivermos forma de os compensar, não conseguimos ter os melhores elementos. E
se não os tiver muitas vezes é muito difícil fazer frente a quem os tem”.
O que é que a AJM ainda pode ambicionar?
RM:
“Nós queremos crescer dentro da modalidade. Na última época demos um
passo grande, subimos para a I Divisão, lançámos um objectivo que era a
manutenção e um objectivo interno que era tentar intrometer-nos nos quatro
primeiros. Não o conseguimos porque os outros foram melhores do que nós.
A Final Four da Taça foi um bocadinho o rebuçado, o contrabalanço daquilo
que não conseguimos atingir no campeonato, mas esta época acaba por ser
bastante competitiva. Tivemos uma equipa de formação que foi campeã
regional, outra esteve muito perto de o conseguir, essas duas equipas estão
a lutar pela presença nas respectivas fases finais.
Nas épocas seguintes, e à semelhança do que aconteceu nas anteriores, creio
que nos cabe dar mais um passo.Se vamos afirmar-nos como um dos candidatos
aos quatro primeiros lugares, se vamos lutar pelo título, isso depende tudo
das condições estruturais que nós conseguimos criar para dar esse passo. Não
vamos é fazer uma coisa, não tendo essas condições, não vamos afirmar-nos
como candidatos e comprometermo-nos com as atletas e treinadores.
Primeiro, preocupamo-nos em criar as condições de trabalho, criar uma
estrutura para trabalhar e só depois é que nos preocupamos em recrutar os
«artistas», que são os atletas para fazerem esse caminho”.
Vendo agora a AJM por outro prisma, o de seleccionador, qual é a
importância que um clube destes tem para o Voleibol feminino?
RM:
“Todos os clubes são importantes. Porque se nós pensarmos que podemos
encontrar um atleta num meio em que a modalidade é menos apelativa, nós numa
perspectiva de Selecção Nacional temos de pensar numa forma mais abrangente
e não só num centro em que estão sediados três ou quatro clubes. Conhecendo
um bocadinho os dois lados, a grande vantagem que a AJM pode trazer ao
Voleibol feminino nacional é que querendo tornar-se um clube a curto/médio
prazo que vai criar condições, que vai apostar e que vai alargar os seus
objectivos aos mais alto que for possível, eu penso que isto só é bom para o
País e para o Voleibol feminino em particular”.
Abril 2019
Academia José Moreira
https://www.facebook.com/Ajm-Voleibol-209163616115343/
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Na época 2017-18, a equipa de
seniores femininos subiu à I Divisão Nacional.
Em cinco anos, a AJM conquistou* 10 títulos nacionais** e 11 títulos
regionais.
* A época 2018/2019 ainda não terminou
** Inclui a Taça de Portugal 2019
ÉPOCA DESPORTIVA 2017-18
1º Lugar Campeões Nacionais de Seniores Femininos
1º Lugar Campeões Regionais de Cadetes Femininos
1º Lugar Campeões Nacionais de Juvenis Femininos
1º Lugar Campeões Nacionais de Cadetes Femininos
ÉPOCA DESPORTIVA 2016-17
1º Lugar Campeões Regionais de Juniores Masculinos
1º Lugar Campeões Regionais de Iniciados Femininos
1º Lugar Campeões Regionais de Masters Masculinos
ÉPOCA DESPORTIVA 2015-16
1º Lugar Campeão Regional de Iniciados Femininos
1º Lugar Campeão Nacional de Iniciados Femininos
1º Lugar Campeões Regionais de Cadetes Masculinos
1º Lugar Campeões Nacionais de Cadetes Masculinos
1º Lugar Campeões Regionais de Juvenis Masculinos
1º Lugar Campeões Nacionais de Juvenis Masculinos
1º Lugar Campeões Regionais de Seniores Masculinos
1º Lugar Campeões Nacionais de Seniores Femininos
1º Lugar Campeões Regionais de Seniores Femininos
ÉPOCA DESPORTIVA 2014-15
1º Lugar Campeões Nacionais de Cadetes Masculinos
1º Lugar Campeões Nacionais de Juvenis Masculinos
1º Lugar Campeões Regionais de Juvenis Masculinos
1º Lugar Campeões Regionais de Juvenis Femininos
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