Na Associação Académica de Espinho
respira-se Voleibol, Família e Espinho
OS FILHOS BEM FORMADOS A CASA TORNAM

Histórico no capítulo da Formação de
atletas, o clube Associação Académica de Espinho assumiu-se ao longo dos
seus 79 anos de existência como uma verdadeira escola para a vida..
Embora o seu conceito seja bem mais vasto, a Carta Europeia do Desporto
define o desporto como “todas as formas de actividade física que (...) têm
por objectivo a expressão ou o melhoramento da condição física e psíquica, o
desenvolvimento das relações sociais ou a obtenção de resultados na
competição a todos os níveis”..
E a verdade é que na Académica de Espinho a aprendizagem técnica do Voleibol
nunca se desassocia dos valores que estão intrínsecos à modalidade, criando
atletas e simultaneamente alunos e cidadãos exemplares, relevando a
importância do desporto em família acima de qualquer rivalidade clubística
numa cidade que os seus habitantes, com orgulho, afirmam ser aa
Capital do Voleibol.
Esta época, e após ter assegurado a permanência no Campeonato Nacional da I
Divisão de Seniores Masculinos – competição que venceu em 1989/90 – na
derradeira jornada do Campeonato, a AA Espinho prepara-se agora para rumar a
voos mais altos, reforçando os alicerces do clube a partir da sua base, ou
seja, as infra-estruturas e, a nível humano, com a inclusão/reforço do
elemento feminino nas camadas mais jovens..
António José Branco é o
Director responsável pelo Voleibol. Antigo jogador, conhece bem os
cantos à casa.

ANTÓNIO
JOSÉ BRANCO: “O facto de termos garantido a permanência na I Divisão é
muito importante porque ter uma equipa a disputar o escalão principal é uma
mais-valia para o clube e uma referência para os miúdos.
O maior investimento que a Académica de Espinho faz é na formação. Não
investimos muito na equipa que está na I Divisão porque temos por princípio
apostar sempre nas camadas jovens, pois somos essencialmente um clube
formador.
Como consequência desse trabalho que é feito na base, por vezes aparece uma
equipa competitiva na I Divisão, mas não estamos para hipotecar o futuro da
Académica de Espinho em favor de uma equipa super-competitiva que receberia
praticamente o investimento todo”.
Conseguido o objectivo principal, os olhos voltam-se já para o futuro
próximo:
AJB: “Em 2018, vamos arrancar com grandes obras no clube em termos de
infra-estruturas, de forma a proporcionar maior qualidade de trabalho e
assim cativar os mais jovens a virem para a AA Espinho. Muita gente do
Voleibol, e não só, vai ficar espantada porque vai ser uma obra digna de se
ver.
A Académica de Espinho era vista como o segundo clube da cidade de Espinho,
para onde iam os atletas que não tinham lugar no Sporting Clube de Espinho.
Actualmente, isso já não é assim pois o trabalho de base faz com que os
miúdos venham para o nosso clube porque já tem boas condições e bons
técnicos e nós apostamos tudo na formação e em criar cada vez melhores
condições.
Há alguns anos, o hóquei era a modalidade rainha da AA Espinho, mas o
Voleibol já está num patamar equivalente, principalmente devido ao que temos
conseguido a partir do ano 2000, que foi quando se deu o boom a
nível de títulos”.
E
no topo da pirâmide dos escalões, qual é o sonho que ainda paira no ar?
AJB: “É evidente que o título nacional, como o que alcançámos em
1989/90, continua no nosso horizonte, mas para isso é preciso criar
infra-estruturas e condições para que ele possa surgir como sequência do
trabalho realizado na formação.
Foi o trabalho desenvolvido com a formação, e recordo atletas como Miguel
Maia e João Brenha, dois casos ímpares no Voleibol nacional, que nos levou a
alcançar o primeiro e até ao momento único título de campeões nacionais da I
Divisão – seniores masculinos.
Queremos continuar a fazer isso: formar campeões e ao mesmo tempo cidadãos,
miúdos com princípios e valores que defendemos na modalidade.
Continuamos a formar jovens com valor, alguns permanecem no clube, enquanto
outros estão espalhados por outros clubes”.
Francisco Fidalgo: “O clube é uma
escola de formação, de juventude”
Francisco Fidalgo é o Coordenador Técnico de todo o Voleibol da AA
Espinho e detentor de um vasto currículo como treinador de Voleibol de
pavilhão e de praia. Como filho bem formado, à casa tornou...
O
que é que o levou a aceitar este desafio?
FRANCISCO FIDALGO: “A Académica de Espinho diz-me muito. Foi o clube
onde fiz a minha formação como atleta, tendo começado aos 10 anos e
praticado várias modalidades; foi o primeiro clube que treinei, em
praticamente todas as modalidades. Se há um clube que eu tenho no coração,
para além de outros onde treinei, é a AA Espinho.
Sensivelmente há dois anos e meio, fui desafiado por dois amigos, colegas de
equipa dessa altura, que eram o Presidente e o Director de Voleibol do
clube, e não tive como recusar tal apelo.
Pediram-se apoio numa altura um pouco complicada do Voleibol, para coordenar
e acalmar um pouco as coisas, tive de aceitar o convite e aceitei-o com
muito gosto”.
E qual é o balanço do trabalho deste último par de anos?
FF: “É um
balanço muito interessante. A Académica passou por momentos conturbados,
nomeadamente com a saída de alguns jogadores, alguns acidentes de percurso
que aconteceram e que deixaram as coisas um pouco fora do controle. No
fundo, o meu trabalho manifestou-se no sentido de acalmar um pouco as
coisas, articular os treinadores, em suma: tentar fazer de novo a escola de
Voleibol excelente que é a Académica de Espinho, porque é isso que o clube
é: uma escola de formação, de juventude. Foi isso que eu passei e senti
quando iniciei a prática da modalidade, é isso que a Académica de Espinho
continua a oferecer e é o que as pessoas procuram.
O balanço é, pois, bastante positivo e não tem nada a ver com os resultados
desportivos alcançados. Isso também é um meio de educação dos jovens, mas
não é um fim em si”.
Como é que em tempos conturbados para algumas modalidades, a AA Espinho
continua a cativar tantos jovens?
FF: “Espinho cidade é um bocado peculiar, pois passar pelo Voleibol
faz como que parte da educação desportiva dos jovens daqui. Essa crise de
praticantes não se faz sentir em Espinho. Tanto nós, Académica, como o
Sporting de Espinho continuamos a ter muitos atletas na formação, a ser
pujantes e competitivos nesse aspecto, não sentimos essa lacuna.
Somos rivais na mesma cidade, mas, somados, os atletas dos dois clubes são
uma fatia muito grande dos praticantes porque, de facto, é uma tradição.
Até há bem pouco tempo só tínhamos a vertente masculina, que é a que tem
sido a mais afectada em termos de praticantes, mas não temos sentido isso na
pele. Temos noção de que o número de praticantes masculinos baixou
significativamente, mas não na formação da Académica de Espinho. Nós temos
nos Minis A mais de 50 praticantes, a nossa dificuldade acaba por ser ter o
espaço e gente para acompanhar todos esses miúdos”.
Sem entrar em comparações qualitativas, que escalões é que destacaria, como
coordenador?
FF:
“Não gostaria de destacar equipas por resultados desportivos, mas destaco a
equipa de Minis B femininos, que é um regresso muito saudado do feminino à
Académica de Espinho, após muitos e longos anos de ausência. Vamos retomar o
feminino calma e gradualmente. Destaco também os Minis A pela quantidade de
praticantes e a heterogeneidade de miúdos que temos, destaco a equipa de
Iniciados porque não perde um jogo há três anos, melhor dizendo: nunca
perdeu um jogo oficial, pois foi campeã nacional de Minis B, de Infantis e
este ano ainda não perdeu qualquer jogo.
Desportivamente, é uma equipa excelente, mas também são excelentes
praticantes, bons estudantes, jovens fantásticos e muito bem orientados pela
equipa técnica.
A Académica de Espinho continua a formar os escalões e este ano tem
finalmente os escalões todos de masculinos, desde os minis aos seniores. Foi
um retomar do caminho, após todas essas crises que já referi e vou destacar
os seniores, que fugiram à despromoção na última jornada [vitória, fora, por
3-2, sobre o CA Madalena].
Acho que a Académica vale muito pela qualidade da sua formação desportiva,
mas também cultural, social".
Podemos
considerar como o expoente máximo da formação da Académica de Espinho, os
atletas João Brenha e Miguel Maia, que foram treinados por si no Indoor e no
Voleibol de Praia.
FF: “Realmente, o João e o Miguel são referências do Voleibol
nacional e é excelente que tenham feito os primeiros anos da formação na
Académica de Espinho, clube do qual eram vizinhos. E a família continua no
clube. O Paulo Brenha, irmão do João, é nosso treinador, o sobrinho é nosso
atleta, a filha e o filho do Paulo são nossos atletas, o filho do Miguel
joga na nossa equipa de cadetes. A família Maia e a família Brenha continuam
ligadas ao clube, o mesmo acontecendo com famílias clássicas e históricas da
cidade de Espinho.
É um orgulho que o Miguel e o João tenham passado por aqui e ainda
recentemente no sarau houve uma grande homenagem do clube, inteiramente
justa, a estes dois atletas de referência, que continuam a dizer que se
sentem academistas e que têm muito orgulho nisso”.
Hélder Marçal: “É extremamente gratificante trabalhar com os mais
pequeninos”
Hélder Marçal, Treinador de Minis A e Juvenis é, actualmente, um dos
treinadores com mais anos de serviço no clube, mas continua a evidenciar um
entusiasmo que contagia os mais miúdos.
HÉLDER
MARÇAL: “É fácil mostrar entusiasmo porque é extremamente gratificante
trabalhar com a formação e quanto mais pequeninos, melhor. Nunca pensei em
deixar os escalões mais jovens, nem nunca ambicionei o trabalho com os
seniores. Gosto muito de Minis A e Minis B, embora durante vários anos tenha
estado afastado deste escalão. Nos últimos dois anos, temos desenvolvido um
trabalho bom, que tem dado frutos. Avançámos este ano com o feminino, nos
Minis A. Já nos apresentámos em três etapas dos Minis B femininos, com
equipas só constituídas por meninas de Minis A, algumas de tenra idade”.
Nos últimos anos, no Voleibol e a nível geral, nota-se uma explosão nos
femininos; os rapazes têm fugido talvez para outras actividades, aqui em
Espinho sente-se uma maior procura no Andebol, mas felizmente na Académica
de Espinho continuamos com um excelente número de praticantes. No ano
passado, teríamos à volta de 20/22 atletas nos Minis A masculinos e neste
momento já temos para cima de 30, completados com mais 20 atletas de
femininos. Já temos acima de 50 atletas, pois alguns ainda não estão
inscritos, o que mostra que continuamos com uma boa adesão”.
Qual a maior diferença relativamente ao tempo em que era praticante e agora,
numa altura em que o desporto tem de se adaptar às apetências dos jovens na
sociedade actual?
HM: “Não sou diferente dos outros treinadores quando dizem que “no
meu tempo, etc”. De facto, se bem que há atletas que procuram fazer mais do
que um treino por dia, vê-se muito a diferença nos miúdos de agora, pois é
preciso apelar mesmo à prática e é muito difícil encontrar aquele atleta que
noutros tempos se calhar encontraríamos com mais facilidade em termos de
disponibilidade e entrega ao treino que era mesmo muito diferente”.
O que gostaria de ver sobressair nestes atletas?
HM: “Se calhar, um bocadinho mais de entrega, se bem que na Académica
não nos podemos queixar da procura da prática do desporto, alguns escalões
têm mais de 17 atletas, o que é significativo, porque temos constatado
noutros clubes que há muita falta de rapazes, principalmente.
O trabalho está-se a desenvolver, devagarinho, calmamente. Começa agora a
aparecer muita gente nos seniores que foi formada no clube, o que para nós é
uma mais-valia. Os de mais tenra idade começam a olhar para cima e a dizer:
“Ele nasceu na Académica para o Voleibol e continua cá… talvez também haja
um espaço para nós nos seniores” e é isso que nós queremos: formar atletas
para os seniores e cada mais em maior número”.

Parece haver uma grande tradição familiar em torno da AA Espinho…
HM: “Gostamos de juntar a nossa família pessoal à volta da nossa
família na Académica, realizando convívios ao longo do ano, como no
Mini-Voleibol, no Natal e no encerramento, procuramos que a família se
junte. O Mini-Voleibol, com o dia 10 de Junho, é um piquenique, que junta
muitos seniores e mesmo atletas da formação que acompanham os mais novos,
que nos ajudam a orientar os miúdos durante esse dia, que é difícil mas uma
alegria e muito gratificante para todos e eu sinto-me muito contente com
este grupo de pais que neste momento temos”.
Paulo Brenha: “Faz falta o Voleibol da rua”
Paulo Brenha,
atleta de referência no clube, treina agora os seniores e os cadetes.
PAULO
BRENHA:
“A manutenção na I Divisão foi importantíssima, pois, para mim, descer
de divisão é um ano perdido. Prefiro não descer, mesmo que no ano seguinte
tenha hipótese de ser campeão do escalão secundário, pois seria um ano de
travessia no deserto.
Nos últimos jogos, solicitámos o apoio dos vários escalões de formação e
eles corresponderam positivamente ao apelo e para nós isso foi muito bom.
Actualmente, os jogadores têm mais condições do que quando eu e outros
jogadores começámos a prática do Voleibol. A Académica de Espinho está a
trabalhar bem. Conseguiu o espaço na Nave Desportiva de Espinho que dá para
darmos mais volume de treino e por conseguinte irmos mitigando a falta de
rua que as crianças neste momento têm. As crianças não jogam muito Voleibol
de rua. No Verão, ainda vão jogando alguma coisa mas mais praia e eu noto
que lhes falta muito o Vólei da rua para poderem defender-se de outra
maneira quando jogam”.
O clube tem procurado novas soluções para melhorar as condições de trabalho
dos seus treinadores…
PB:
“É verdade. A parceria com a equipa do preparador físico Frederico Silva
[Wellness Solutions] tem ajudado imenso, quer a nível dos seniores quer dos
outros escalões. Uma vez por semana ajuda-nos a trabalhar fisicamente os
miúdos e também liberta a equipa técnica para outras acções durante a época.
Também treino os Cadetes masculinos e sempre com aspiração de ser campeão
nacional. Já tínhamos ganho a todas as equipas menos à Académica de S.
Mamede, que foi precisamente o nosso primeiro adversário na fase final…
«Tantas vezes perdemos que vamos acabar por ganhar; ninguém ganha
eternamente e ninguém perde eternamente», foi com esse pensamento que
partimos para a disputa desse jogo e foi para isso que trabalhámos, mas as
coisas acabaram por não nos correr de feição”.
Por que é que há tantos jovens a quererem jogar Voleibol em Espinho?
PB:
“Espinho é uma cidade de Voleibol. Respira-se Voleibol, joga-se
Voleibol, transpira-se Voleibol. Mesmo pessoas que pratiquem outras
modalidades, acabam por jogar Voleibol em Espinho e é fácil ver pessoas a
jogar na praia, mesmo aqueles que nunca jogaram Voleibol, porque vêem muito
Voleibol e também se aprende a ver Voleibol, não é só a praticar. Acontece
mesmo alguns miúdos aprenderem a jogar só de verem a jogar tanto Voleibol e
Espinho tem dois clubes com grande representatividade”.
Paulo Brenha foi um jogador sobejamente conhecido no panorama voleibolístico
nacional, é ainda irmão de outro famoso produto de Espinho, João Brenha,
ambos formados na Académica de Espinho. Agora, para além de treinar dois
escalões no clube, tem dois filhos nos escalões de formação… a paixão pela
modalidade passa de geração para geração na AA Espinho?
PB:
“O Voleibol é um jogo importante para mim. É um dos mais, senão o mais
colectivo, pois não há espaço para muito individualismo, pois só podemos dar
um toque de cada vez, ao contrário de outras modalidades colectivos como o
futebol, o andebol ou o hóquei em patins, por exemplo, onde se pode pegar na
bola, fazer uma jogada individual e marcar golo, no Voleibol precisamos
todos uns dos outros e eu gostei sempre desse colectivo do Voleibol, em que
estamos todos interligados e o esforço de todos é que vai estabelecer o
resultado final.
Aos meus filhos enquanto atletas transmito-lhes essencialmente que a prática
desportiva em si é boa e eles saberem estar em grupo, comportarem-se em
grupo, isso vai ajudá-los ao longo de toda a sua vida. E o Voleibol deu-me
muito nesse aspecto. Ensinou-me a conviver com as pessoas e a estar
interligado com os que me rodeiam”.
Gonçalo Sapage: “É preciso muito
empenho e dedicação”
Gonçalo Sapage,
capitão dos seniores masculinos, mantém-se na tradição familiar, sendo,
a título de curiosidade, cunhado de Miguel Maia.
O
que sente um sénior ao ver tantos miúdos e tanto entusiamo na prática do
Voleibol?
GONÇALO SAPAGE: “É muito bom. Todos passámos por isto. Eu tive a sorte
de fazer a minha formação num clube como a Académica de Espinho, que sempre
apoiou a formação. E ver agora os miúdos a passarem pelas etapas por que
passei é muito bom e gratificante.
Costuma-se dizer que em Espinho há sempre um membro da família que já jogou
Voleibol ou está ligado ao Voleibol. Temos algumas famílias mais
preponderantes, eu estou a qui e tenho o meu sobrinho a jogar cá e vários
outros jogadores ou treinadores têm familiares nos escalões de formação. É
importante que na capital do Voleibol, como é conhecida a cidade de Espinho,
aconteça isso”.
Como procuraria transmitir, numa mensagem, a mística do clube aos mais
novos?
GS:
“Para além de ser capitão de equipa, sinto que tenho uma
responsabilidade acima de qualquer outro, pois não gostaria de deixar o
clube num patamar onde não o encontrei. Devo continuar a jogar na próxima
época, mas se não o fizesse, não queria deixar como legado a Académica num
escalão inferior.
Como mensagem, poderia dizer: “Continuem a treinar, pois estão no clube
certo para se fincar na modalidade”.
A Académica é um clube que apoia bastante a formação, pelo que só depende do
seu empenho e dedicação começar a alicerçar o seu percurso porque por parte
do clube têm as condições todas.
Há sensivelmente cinco, seis anos, deixei bem vincado numa entrevista que me
fizeram: “Se me saísse o Euromilhões, fazia da Académica um clube do topo da
modalidade”… e acho que está tudo dito sobre o que representa a Académica
para mim”.
António Natário: “Aprendemos sempre
ao longo da nossa vida”
António Natário
é um dos «históricos» do Voleibol e o treinador da equipa de Iniciados,
que, até ao momento [campeão nacional em 2016/2017], ainda não conheceu o
sabor amargo da derrota em jogos oficiais.
Como
é que se constrói uma equipa assim «tão ganhadora»?
ANTÓNIO NATÁRIO: “Esta equipa está imbuída de um espírito muito grande,
desde miúdos que só conhecem o sabor da vitória, o segredo está em que
grande parte deste grupo já tem seis, sete anos de Voleibol e quase sempre
juntos. Começaram muito cedo, nas escolas de formação da Académica,
apareceram a treinar nas captações com seis/sete anos, fizeram um percurso
de minis de cinco/seis anos, têm um percurso paralelo, mesmo na escola estão
quase sempre juntos, vários na mesma turma, inclusive, e tudo isso junto
leva a que haja um espírito de grupo forte.
São miúdos evoluídos tecnicamente, já com uma altura suficiente para nos dar
algumas garantias, mas há que continuar a trabalhar, porque cada ano que
passa, é uma nova etapa da formação deles e há que estar à espera de evoluir
cada vez. Se algum dia chegarem ao escalão sénior, ainda terão mais para
aprender porque aprendemos sempre ao longo da nossa vida.
Estou há dois anos com esta equipa, já acompanhava com o meu filho, no
Mini-Voleibol. É um grupo que gosta de trabalhar, que leva as coisas a
sério, empenha-se, dedica-se ao treino, gosta muito disto e isso facilita”.
O trabalho que está a ser desenvolvido no Voleibol vai ser «recompensado»
com o crescimento das instalações desportivas do clube…
AN:
“Em relação às infra-estruturas, creio que é um passo de gigante que a
Académica vai dar, e quanto mais rápido melhor, porque praticamente só
treinamos uma vez durante a semana no sítio onde jogamos ao fim-de-semana.
Há três anos, houve uma sangria muito grande de jogadores, que cortaram
determinados escalões e foi difícil reconstruí-los.
A partir de agora, creio que as coisas vão levar um ritmo certinho porque há
bastantes atletas na formação, nos Minis A, os Minis B também já com
fornadas agrupadas por anos de nascimento, portanto, dá para levar daqui
para a frente. E todos os anos aparecem mais miúdos, pelas captações que
vamos fazendo e vamos trabalhando no sentido de que quando chegarem lá acima
consigamos levar, dois ou três ou mesmo um aos seniores, o que já seria
trabalho ganho”.
A tradição familiar continua a ter o seu peso em Espinho?
AN:
“Continua, eu estive sempre ligado ao Sporting de Espinho, assim como a
minha família toda, o meu pai, inclusive, o meu irmão jogou tanto na
Académica como no Sporting de Espinho,. São clubes da cidade, hoje estou a
representar a Académica, com todo o profissionalismo, mas há sempre a
tendência para os filhos seguirem as pegadas dos pais, do tio, do avô”.

Filipe Leite: “Muito esforço, união e também ambição de ganhar”
Filipe Leite é o capitão de uma equipa de iniciados «viciada» em
vencer.
O facto de não perderem há sensivelmente três anos, dá a esta equipa um
moral de ferro, mas os jogadores não se sentem pressionados com a situação,
preferindo usufruir dela.
Qual
é o segredo e uma equipa ganhadora?
FILIPE LEITE: “É preciso muito esforço nos treinos, ter muita união e,
nos jogos, a ambição de ganhar, darmos sempre o nosso melhor para podermos
obter os melhores resultados.
Como capitão, incentivo-os a terem sempre força e lembro-lhes os jogos mais
difíceis que conseguimos ganhar, para jogarmos sempre unidos e ter sempre
presente a lembrança de que somos uma equipa que já não perde há muito tempo
e que queremos manter esta marca no Voleibol português”.
E se a derrota acontecer?
FL: “Será enfrentada com força e responsabilidade e como um incentivo
a treinarmos ainda mais para conseguirmos uma vitória no jogo seguinte e
voltarmos ao nosso normal”.
Jogadores preferidos?
FL: “Miguel Maia é um grande jogador, também gosto do Hugo Gaspar, do
SL Benfica, em Portugal. A nível mundial o Earvin Ngapeth (França).
Se algum dia poderei vir a ser como eles? É um sonho… que pode ser
concretizado, quem sabe, embora seja muito complicado de concretizar, pois é
preciso muito esforço, empenho nos treinos e nos jogos e muita união como
equipa”.
Testemunhos
Miguel Maia: “Vivi momentos únicos
na AA Espinho”
Miguel Maia é, a par de João Brenha, um dos expoentes máximos atingidos
por atletas saídos da formação academista. Com 15 títulos de campeão
nacional, o primeiro dos quais obtido aos 17 anos ao serviço da Académica de
Espinho, o distribuidor apresenta, aos 46 anos, um palmarés invejável, quer
no Indoor quer na praia, onde também jogou com João Brenha, seu amigo de
infância.
MIGUEL
MAIA: “Eu praticamente nasci para a vida na Académica de Espinho.
Conhecia os cantos todos da casa, pois eu e os meus amigos brincávamos muito
dentro do pavilhão da Académica de Espinho. Jogámos Voleibol, futebol,
hóquei em campo, no pavilhão ou na parte de fora do pavilhão da Académica.
Era o nosso passatempo diário ao longo de muitos verões e durante muitos
anos.
Além das brincadeiras serem feitas dentro e for a do pavilhão, também
treinávamos à quarta-feira e aos sábados de manhã nos Minis.
Vivi momentos únicos na AA Espinho, onde passámos a nossa juventude toda e
onde fizemos muitas amizades.
A geração actual, como a do meu filho, que joga nos cadetes da Académica,
vai treinar ao clube, mas já não vai para lá brincar. Hoje em dia, os miúdos
têm milhentas actividades mas não brincam na rua, como nós fazíamos no nosso
tempo.
Assim, a infância desportiva do meu filho passa apenas pelos treinos e
jogos. A nossa não era assim, era quase um dia inteiro a brincar com a bola
nas instalações da Académica de Espinho”.
Como é que um atleta que cresceu na Académica de Espinho e contribuiu para o
primeiro – e até agora único – título de campeão nacional da I Divisão de
seniores masculinos, mas que tem o seu nome mais ligado ao Sporting de
Espinho – com 11 títulos de campeão nacional e uma Top Teams Cup, por
exemplo – vê a rivalidade entre os clube da mesma cidade?
MM: “Existe rivalidade e desejo que seja sempre saudável. As equipas
da Académica querem ganhar ao SC Espinho e vice-versa, mas creio que isso é
absolutamente normal.
Para mim, é diferente: eu nasci na Académica, tenho um percurso praticamente
desde a infância até sénior na Académica de Espinho, depois tenho uma parte
toda profissional no Sporting de Espinho, eu também já era sócio e adepto do
Sporting de Espinho, tinha passado num escalão de formação no Sporting de
Espinho. Para mim, são dois clubes que me dizem muito e que estão dentro do
meu coração, que eu respeito muito e por isso não vejo a minha ligação ser
mais ao Sporting de Espinho ou à Académica de Espinho. Sou dos dois.
Honrei sempre a camisola dos dois clubes da minha cidade e penso que todos
os espinhenses têm de estar orgulhosos de ter dois clubes com a dimensão que
têm no panorama do Voleibol português.
A formação da Académica de Espinho tem trazido para o voleibol português
muitos atletas. A nível de Selecção, nos últimos anos tem tido uma afluência
maior de jogadores da Académica de Espinho, mas nota-se que à Académica
falta-lhe dar mais um passo em frente, porque é um clube de formação, mas é
um clube que está muito parado nesse sentido. Não digo isto de uma forma
negativa, mas por vezes acho que falta um bocadinho de ambição e considero
que a Académica de Espinho tem condições, por aquilo que tem formado ao
longo dos anos, para fazer boas equipas de seniores e aproveitar muito mais
os atletas que tem”.
Junho 2017

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