CVES LATINO COELHO MANTÉM TRADIÇÃO EM LAMEGO
O VOLEIBOL PERTENCE À CIDADE
E ESTA À MODALIDADE
 

É comum dizer-se que «a tradição já não é o que era»... mas não é bem assim, pelo menos em Lamego. Famosa por aspectos culturais que vão desde as tão badaladas «Cortes» do Séc. XII à Festa da Nossa Senhora dos Remédios, a cidade continua a ser referenciada também pelo Voleibol. Quem visita o antigo Liceu Nacional de Latino Coelho, durante o período de recreio, facilmente se apercebe por que razão foi esse o berço do CVESLC-Lamego – Clube de Voleibol da Escola Secundária de Latino Coelho-Lamego, em 26 de Outubro de 2006.
 

Professores na Escola Secundária de Latino Coelho e sócios fundadores do CVESLC-Lamego, Alfredo Ferreira e Avelino Eira estiveram, desde sempre, envolvidos no Voleibol de Lamego e no Gira-Volei praticamente desde o seu início, tendo dado continuidade à tradição da modalidade na região.
Na Gala do Voleibol, organizada pela Federação Portuguesa de Voleibol e realizada em 2009, Alfredo Ferreira e Avelino Eira receberam o Prémio Mérito Gira-Volei.
Agora, em pleno Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, os docentes explicam como tudo se passou.



A tradição do Voleibol teve sempre muito peso em Lamego, mas passou por um período de algum “obscurantismo.” Como é que tudo recomeçou?

ALFREDO FERREIRA – “É verdade que a Escola Secundária de Latino Coelho, ao longo da vida e, sobretudo, no século XX, já tinha algum Voleibol, que era jogado nas aulas de Educação Física e no Desporto Escolar. Contudo, quando vim para a escola, em 1981, o Voleibol estava, digamos, um bocado parado e havia outra modalidade que era muito do agrado de um colega nosso professor, que era o Basquetebol.
Eu, como tinha feito o Centro de Treino de Voleibol no ISEF, em Lisboa, e estava ligado ao Voleibol, preferi optar pela “minha” modalidade. Foram criadas várias equipas, uma delas integrada pelo professor Avelino Eira. O projecto começou a desenvolver-se a nível do Desporto Escolar ao longo da década de oitenta, culminando com a obtenção de bons resultados no Desporto Escolar em 1990/91, época em que a equipa feminina de juvenis foi campeã nacional e a de masculinos ficou no 2.º lugar a nível nacional.
Existia um conjunto de jogadores com qualidade e que ao longo desse período, foram atraindo outros alunos e atletas para o Voleibol.
Entretanto, ao fim desse período, aparecem na escola antigos alunos, meus actuais colegas, que começaram também a espevitar-me para incrementar ainda mais a prática da modalidade e para desenvolver um projecto para além do Desporto Escolar, tendo o professor Avelino Eira sido um dos pioneiros nesse aspecto, com a implementação do Gira-Volei”...


Gira-Volei, que veio dar um novo impulso ao Voleibol na Escola Latino Coelho...


AVELINO EIRA – “Quando chego à Latino Coelho, proponho um projecto que tinha começado com o Gira-Volei na Régua, quando era docente do Curso de Educação Física na Escola Superior de Educação. Na altura, e com a ajuda do Professor Amílcar Saavedra [Diretor da FPV] e com os alunos de opção de Voleibol, tentamos realizar um projecto de integração social num bairro de etnia cigana, que resultou muito bem.
Quando vim para a Latino Coelho tinha já a ideia de implementar um projecto semelhante. Entre 2003 e 2005, o projecto Gira-Volei alcançou muito sucesso, eu e os professores Alfredo [Ferreira] e um professor de Físico-Química que tinha um filho a jogar Voleibol, propusemos ao Director a criação de um clube e em 2006 nasce o Clube de Voleibol da Escola Secundária Latino Coelho. Inicialmente, com o nome de Liceu de Lamego, para reportar aos antigos tempos da década de 60, em que havia uma rivalidade saudável entre o Colégio de Lamego e a Latino Coelho... Uma rivalidade que eu gostava que se mantivesse porque isso significaria que o Voleibol continuava a ser a modalidade preferida na cidade, como foi, culturalmente, no tempo dos nossos pais e dos nossos avós.
Tudo começou com o Gira-Volei, e continua a ser o Gira-Volei a ajudar na formação das nossas crianças e jovens, a todos os níveis, nos aspectos social e competitivo e mesmo ao proporcionar o conhecimento de outras terras.
O Gira-Volei é a mola real da nossa escola. É uma modalidade perfeita para entrar numa escola porque aquilo que se diz do Gira-Volei, «fácil, divertido, competitivo», é mesmo verdade. Como tiveram oportunidade de assistir, na escola todos os miúdos jogam Voleibol nas redes que foram montadas no recreio, miúdos com idade e sexo diferentes. Essa introdução ao Voleibol é fantástica e é isso que continuamos a fazer, provando na prática que, pelo Desporto, os alunos podem ter melhor rendimento escolar.”


Foi professor de Avelino Eira. Como eram os alunos/atletas nessa altura, comparados com os de agora?

AF: “Como aluno, o agora professor Avelino Eira era muito aplicado, à semelhança dos seus irmãos, que foram meus alunos e se revelaram todos excelentes alunos e excelentes pessoas.
Creio que naquela altura os miúdos acatavam mais facilmente os nossos ensinamentos. As épocas são diferentes e os alunos também.
Antigamente, eram bastante lutadores, nunca desistiam, esforçavam-se muito, não perdiam um treino e batalhavam por cada ponto em todas a jogadas, porque eles queriam construir algo de positivo dentro de desporto escolar. Hoje em dia, os miúdos também trabalham e esforçam-se, mas têm outras solicitações que às vezes os levam a não ter aquele empenho total no treino.
Hoje, os nossos alunos e jogadores podem não ser dos melhores a nível nacional mas mantêm princípios fundamentais, que se pautam por uma boa educação, por uma boa formação integral, pelo companheirismo. Para além do aspecto competitivo, eles mantêm esses valores. São alunos diferentes, mas estão sempre no bom caminho”.


E continuam a ter bom aproveitamento, tanto a nível escolar como desportivo?

AE – “Sim. Curiosamente, os melhores alunos também são aqueles que mais se aplicam no Voleibol. Inclusivamente, temos alunos que entraram em cursos em que eram exigidas notas altas (Medicina, Engenharia) e que nunca faltavam aos treinos. Traziam os livros e naquele espaço entre o final das aulas e o começo do treino estudavam na Biblioteca.
Como também temos alunos com outra envolvência social, penso que a parte familiar e social conta muito e é importante que os pais acompanhem os filhos, tanto nos estudos como no Voleibol, se não a dimensão total da criança fica incompleta.
O Voleibol trouxe um aspecto fundamental à escola: trouxe os pais à escola, para verem os jogos e para falarem connosco como professores, e veio dar uma maior ligação comunidade/escola e, agora, a escola está integrada na comunidade e esta na escola.
Deixem-me salientar que na Associação de Antigos Alunos, que tem muita gente de outros tempos e com fortes ligações ao Voleibol e núcleos no Porto e em Lisboa, embora seja em Lamego que está a sua sede, está a ser burilada a possibilidade de abraçar o Voleibol ao nível de equipas de seniores. É um bocado prematuro estar a falar nisto, mas como muitos deles foram jogadores de Voleibol e têm filhos a jogar, consideram que esta é de facto a nossa matriz cultural a nível desportivo e a melhor maneira de fazer a ligação escola/comunidade.
Os tempos são diferentes daqueles em que viveram os seus pais, mas os miúdos que gostam da modalidade estão sempre cá”.


O trabalho que está a ser desenvolvido no clube e os títulos já alcançados no desporto escolar e no Gira-Volei permitem assegurar a tradição do Voleibol em Lamego?

AE – “Sim. Temos muitos títulos no Gira-Volei, bem como no Gira + e no Ar Livre. É importante ganhar esses títulos e fazer do Gira-Volei uma festa para depois os jovens quererem mais e podermos alimentar o clube com atletas.
Somos um clube de formação, um clube mediano, atingimos algumas fases finais, inclusivamente em juniores e ganhámos na altura uma Taça da Federação e vamos coleccionando esse tipo de resultados. No entanto, é de referir que só tínhamos alunos a partir do 7.º ano e hoje, com o agrupamento, que começou no ano transacto, temos em mente começar a trabalhar desde o 1.º ciclo.
A partir do Gira-Volei as raízes ficaram e nós temos alguns miúdos com muitas qualidades, alguns não querem ir para o federado, preferindo continuar a jogar Gira-Volei.
Neste sentido, ninguém joga obrigado. Relativamente às aulas e aos treinos, acho que uma aula de educação física serve para motivar os alunos à prática de exercício físico e se eu conseguir motivá-los para um dia continuarem a praticar exercício, óptimo. O Clube de Voleibol motiva-os para uma prática competitiva em que queremos ganhar. Isto também é positivo para a formação da personalidade, confrontar-se com outros atletas, reconhecer quando os outros são mais fortes e nós mais fracos ou vice-versa, sendo fundamental para formação da personalidade.
O federado é mais exigente, porque implica treinar as técnicas para poderem ser superiores aos adversários. Nas aulas, preparamo-los para serem bons cidadãos e através do exercício físico, saudáveis, tanto física como mentalmente”.


Reportando-nos ao aspecto da tradição, os jovens têm ainda várias referências...

AF – “Referências de jogadores e mesmo de competições que se realizam aqui na cidade, como o Torneio das Vindimas [seniores masculinos], no qual os nossos alunos e atletas participam na organização da competição.
O CTOE (organizado pela Associação de Voleibol de Viseu e com o apoio do CTOE), no qual os nossos alunos e ex-alunos também competem. Normalmente, as nossas ex-jogadoras participam nessas equipas e, inclusive, por vezes vencem a prova.
Há uma interligação muito grande e o Voleibol pertence à cidade e esta à modalidade.
Por exemplo, na minha equipa de Infantis Femininos há duas meninas que são gémeas que foram campeãs nacionais de Gira-Volei no ano passado.
Tem sido sempre assim”.

AE – “... E também há os torneios disputados em Resende e organizados pelo professor Fernando Almeida, mantendo viva a chama do Voleibol na região.
Há factos curiosos de atletas que continuam a jogar Voleibol e que começaram no Gira-Volei. Uma antiga atleta, a Sofia Ribeiro, que começou no Gira-Volei e chegou a jogar como federada e que agora está no curso de Medicina na Covilhã, telefonou-me a perguntar se podia jogar no Gira + este ano, com o par dela. Ela foi campeã três vezes consecutivas, ela e a Andreia Vieira, que está em Engenharia, no Porto. Vão participar, no dia 17 de Maio, no Encontro Regional e espero que sejam apuradas para o Nacional. Ambas continuam a jogar no desporto universitário.
E temos algumas atletas, que foram campeãs e que o gosto pelo desporto perdurou de tal maneira que estão nos cursos de Educação Física.
Há também uma atleta que está a jogar no CD Ribeirense, a Luísa Paiva, que tirou o curso de Educação Física no Porto e que começou a praticar Gira-Volei com o Prof. Guilherme Bernardo, tendo sido inclusive campeã nacional, e a Cláudia Melo, que chegou a representar a Selecção Nacional.
Quem também representou a Selecção Nacional e que teve um percurso no Castelo da Maia GC, foi o André Lourenço, que neste momento joga no Gueifães e que está no curso de Economia, no Porto.
O nosso orgulho é o sucesso desta rapaziada em termos sociais e profissionais, porque o Voleibol dá-nos algo para a vida e eu gosto muito de ouvir o André a falar dos amigos que tem no Porto, gente do Voleibol e de vários clubes.
O clube só começou em 2006, mas estas referências vão ficando e vão fazendo com que no futuro o clube se torne maior porque também acredito que um ou outro irão voltar e ajudar o clube a crescer mais”.





 Diretor/Presidente José Martins:
“Vamos contribuir para o crescimento
 da modalidade na região”



José António Fernandes Martins Rocha
é o Director da Latino Coelho. Nessas funções, defende a prática desportiva e cultural dos alunos. Como Presidente do CVESLC, salienta a responsabilidade social dos atletas.
 

O clube nasceu com uma determinada finalidade: “(...) a formação e desenvolvimento dos seus membros através da prática desportiva e de actividades culturais e recreativas, assim como a promoção do património histórico e cultural da comunidade onde se insere”.
Oito anos depois, esse objectivo continua vivo?


JOSÉ MARTINS – “Esse objectivo vai-se atingindo aos poucos. A finalidade foi dar uma importância maior à parte desportiva, já que o Desporto Escolar não cumpria totalmente os objectivos, ou seja, é muito espaçado no tempo; tem muito treino e pouca competição.
Daí começou-se a desenvolver a ideia de criar um clube federado, que nasceu da vontade de alguns professores da escola, nomeadamente dos professores Avelino Eira e Manuel Augusto, que foram os grandes impulsionadores, e pelo professor Alfredo Ferreira. Eu fui ouvindo, fui apoiando a ideia, fizeram-se os estatutos e o registo do clube, e, o “pontapé de saída” foi dado com a criação de uma equipa masculina de minis. Desde o início ficou sempre a vontade de que este projecto desportivo teria que estar intimamente ligado ao projecto educativo da escola e, por isso, o projecto foi discutido e aprovado pela Assembleia da Escola. Entre os sócios fundadores do CVESLC encontramos o presidente da assembleia de então, Dr. Giordano Ferreira, o presidente da CM de Lamego, Eng.º Francisco Lopes, e outros elementos da comunidade educativa. Como referi, no primeiro ano participamos com uma única equipa, no segundo ano apresentamos duas equipas de infantis, uma masculina e outra feminina, que fizeram o percurso até ao escalão de juniores. Ao longo destes anos o clube tem vindo sempre a crescer, este crescimento tem sempre sustentado na vontade quer dos professores de Educação Física que, entretanto, foram aderindo também ao projecto – José Guerreiro, Carlos Almeida, João Paulo Lázaro, Henrique Vaz, Rui Taboada e Júlio Pimenta – treinando e acompanhado os nossos jovens sem qualquer remuneração para além do vencimento que usufruem como professores da escola, quer na de outros professores do Agrupamento de Escolas que são sócios do Clube.
De momento para além do voleibol o CVESLC tem uma secção de ginástica e participa nas competições nas disciplinas de Acrobática e de Trampolins.


Como Director da Escola, que era um homem mais de outras modalidades, rendeu-se ao Voleibol?


JM – “Confesso que, enquanto aluno, nunca fui grande atleta. Sempre gostei bastante da prática desportiva, tendo passado pelo Basquetebol, Andebol, Atletismo, etc., mas nunca joguei Voleibol. No meu tempo de estudante a modalidade mais praticada era o basquetebol.
Tenho consciência que a prática do desporto é uma forma de crescer saudável e por isso apoio todas as iniciativas ligadas ao desporto. Como director da escola, obviamente também apoio outras actividades com carácter mais cultural, mas dou muita importância à prática desportiva.
Como agrupamento de escolas, este é apenas o segundo ano de funcionamento, mas na escola básica, que foi associada à escola secundária, também existia uma forte cultura desportiva e também muito ligada à prática do Voleibol devido á permanência nessa escola durante vários anos do professor Guilherme Bernardo.
Agora, enquanto agrupamento de escolas, pensamos que podemos incentivar a prática desportiva mais cedo e captar os alunos mais cedo para o Voleibol. Penso que no futuro vamos recolher os dividendos do crescimento como escola.


A Escola Latino Coelho (Liceu) cumpre 133 anos de existência e o Voleibol em Lamego tem já uma tradição de muitas décadas. Pensa que com o Gira-Volei e o Clube de Voleibol, que ainda está a dar os primeiros passos, essa tradição vai ser mantida?


JM – “Lamego sempre teve muitas equipas de Voleibol, não só na Escola (Liceu), mas também no Colégio de Lamego, onde sempre houve uma forte tradição de Voleibol, masculino, pois na Latino Coelho, o Voleibol era, essencialmente, feminino. O clube veio trazer o Voleibol masculino para a Liceu, e ao longo dos próximos anos, penso que vamos contribuir para o crescimento da modalidade na região.
Mas gostaria de salientar que mantermo-nos neste meio é extremamente difícil. A maior parte das equipas são da região do Porto, a competição obriga-nos a inúmeras e grandes deslocações, sempre superiores a 120 km.
O maior apoio financeiro que o clube tem, reduzido mas importante, é o disponibilizado pela Câmara Municipal de Lamego, que cobre cerca de 40% das despesas de deslocação que temos ao longo de uma época. Os restantes fundos do clube são provenientes das quotas dos sócios do clube e outras formas de angariação como, por exemplo, venda de rifas ou recolha de donativos. As famílias dos alunos contribuem com cerca de 60 euros por ano, mais ou menos 20 euros por trimestre, contudo, os alunos mais carenciados não pagam nada ao longo do ano e, na conjuntura actual, o número de alunos oriundos de famílias carenciadas é muito significativo. É o clube que suporta todos os encargos com estes jovens, para que ninguém seja excluído, principalmente, pela falta de capacidade económica”.


O Clube poderá, de alguma forma, dar continuidade ao trabalho que é feito na escola?


JM – “O facto de todos os fins-de-semana haver jogos de voleibol e de existirem inúmeros eventos de ginástica, realizados na região de Lamego, como saraus e encontros de ginástica acrobática e trampolins e de diversos pais se deslocarem a estes eventos para acompanharem os seus filhos, dá visibilidade à escola e à comunidade educativa.
Nós acreditamos que a prática do desporto também ajuda à parte de resultados académicos e muitos dos alunos desenvolvem competências de concentração, de responsabilidade, de ambição, que ajudam nos resultados escolares. Por vezes os melhores alunos até são aqueles que vêm a mais treinos e participam mais activamente no desporto. Não raras vezes isso acontece. Somos um Agrupamento com cerca de 2.400 alunos, na Escola Secundária são à volta de 1.000 alunos, temos de tudo, alunos com bons resultados e outros com resultados menos positivos. Enquanto escola e clube temos a preocupação de os apoiar a todos e, as nossas acções, são sempre orientadas para a promoção do sucesso educativo”.


Os valores que a escola defende não encontram eco nos valores do Voleibol?


JM – “Somos um clube que tem uma cultura de desenvolver competências de ambição e de competição, mas também, porque trabalhamos com professores e alunos, não apenas como treinadores e atletas, pelo que ganhar a qualquer custo não faz parte do nosso lema. Procuramos ganhar, mas com lealdade, e queremos que os alunos aprendam a saber ganhar e a saber perder e que, por hábito, tenham comportamentos responsáveis e socialmente normais. Não fazemos do jogo o centro do descarregar das nossas frustrações.
Saber ganhar, como saber perder faz parte da nossa formação e daquilo que queremos ensinar aos nossos jovens”.


Atingida esta fase, há objectivos delineados para um futuro mais próximo?


JM – “A nossa orientação tem sido sempre no sentido de trabalhar o desporto escolar e o desporto federado durante o período de formação dos alunos. O nosso trajecto acaba habitualmente no segundo ano do escalão de juvenis. Já participámos com uma equipa masculina e com uma feminina nos juniores porque o grupo ainda era consideravelmente bem composto, mas a nossa base de recrutamento não é muito grande.
Quando chegamos aos alunos que estão no final do 11.º ano, dificilmente se consegue um grupo que justifique fazer a competição e nessa altura os alunos também já estão mais concentrados no acesso ao Ensino Superior.
Os nossos objectivos são começar com eles o mais cedo possível e agora, enquanto agrupamento, tentar começar ainda no escalão de minis e levá-los até ao final do escalão de juvenis”.


Quem passa pela Escola Latino Coelho não parece esquecer, nem a escola nem o Voleibol...


JM – “Isso é um dos grandes trunfos que temos enquanto instituição! Aquilo que proporcionamos aos nossos alunos, em termos desportivos, faz com que eles mantenham o contacto com a escola já depois de saírem. Muitos vêm para Lamego ao fim-de-semana e pedem para vir fazer um treininho aqui à sexta-feira e ao sábado e ajudam, seja na mesa de jogo seja a arbitrar, muitos deles passam por aqui durante o seu percurso na Universidade.
Em termos escolares, também sentimos isso, pois esta é uma escola que está orientada para o sucesso escolar dos alunos. Essencialmente, a nossa oferta visa, em primeiro lugar, o acesso dos alunos ao Ensino Superior e penso que também nesse aspecto temos cumprido bem o nosso objectivo.
Há muitos alunos que passaram por aqui e que agora estão no Ensino Superior e em cursos em que realmente as médias são altas e que não é fácil entrar lá”.





 José Guerreiro: “Trabalhamos com
 o objectivo de formar homens”



José Guerreiro, treinador da equipa de Juvenis Masculinos do CVESLC, salienta “uma realidade diferente da realidade do restante Voleibol nacional” vivida na região duriense.


Nota-se que o Voleibol é muito acarinhado em Lamego. O clube beneficia com essa tradição?

JOSÉ GUERREIRO – “O Voleibol tem grande tradição na nossa cidade e na Escola Latino Coelho ainda mais. É fácil constatar, nos intervalos das aulas, que os conjuntos de redes que foram montados nos recreios estão sempre cheios de miúdos a jogar. Uns trazem bolas de casa, outros vêm pedir a um funcionário que disponibiliza bolas da escola e as redes estão constantemente cheias e, no fundo, é por isso que nasce este projecto na escola.
O concelho não é grande, mas tem muita oferta em termos desportivos para os escalões masculinos, muitos clubes de Andebol, Futsal, Futebol.
Ao nível do feminino, essa oferta já não se verifica, mas no masculino não é fácil conseguirmos arranjar quem queira praticar Voleibol”.


E no que diz respeito mais concretamente à equipa de juvenis?

JG – “Estou a trabalhar há cinco anos com este grupo de juvenis, metade dos quais ainda são cadetes. Estes ajudam a equilibrar a equipa ao nível da quantidade de elementos praticantes da modalidade, mas, por outro lado, ao nível competitivo, sentimos algumas lacunas porque um ano de diferença faz-se sentir na competição, devido à sua imaturidade relativamente às situações do jogo.
É um grupo que tem treinado, sempre que possível, assiduamente, mas é um trabalho difícil e que não nos permite estar com a nossa família grande parte do tempo ao fim-de-semana, pois temos de nos deslocar ao Porto se queremos jogar, já que na região e perto dela não existem equipas do nosso escalão.
De 15 em 15 dias, percorremos cerca de 300 km e isso implica sacrifícios da nossa parte, dos técnicos do clube, que são professores de Educação Física como eu, e dos miúdos, que perdem um dia do fim-de-semana.
Tudo recai sobre o grupo de Educação Física e não é fácil suportar... só com o apoio da Direcção da escola, porque é um projecto de escola”.


As funções de professor e de treinador complementam-se?

JM – “Complementam-se. Aliás, este grupo que forma a equipa de juvenis participa no desporto escolar e no fundo é esse o principal objectivo.
Nós andamos nisto com muito sacrifício, mas igualmente com vontade de formar homens, de preparar estes jovens para a sua vida futura e procuramos tirar alguns dividendos a nível desportivo e, essencialmente, ao nível do Desporto Escolar.
Sabemos que as realidades são diferentes e não é fácil juntarmos um grupo de 12 jovens. Apesar de vocês verem muita adesão à modalidade nos recreios, no que diz respeito à competição esta implica outras exigências que alguns pais não aceitam. Aliás, há muitos pais que dão valor ao nosso trabalho, mas infelizmente ainda temos aqueles que acham que nos fazem um favor ao trazerem os filhos ao fim-de-semana.
Relativamente aos juvenis, mais de metade da equipa não é da cidade, mas das aldeias à volta, o que implica transportes, uma rede de transportes que não existe no concelho e eles só conseguem vir ao fim-de-semana para competirem se algum familiar os puder trazer.
Isso também limita porque muitas vezes sentimos dificuldades para fazer com que os miúdos apareçam aos jogos.
É uma realidade diferente da realidade do restante Voleibol nacional, a nível de camadas jovens, que está maioritariamente centrado junto ao Litoral, e onde a rede de transportes abunda”.


Como professor e como treinador, que recompensa tira deste trabalho?

JG – “A recompensa principal deste trabalho centra-se na evolução dos miúdos. É gratificante ver a enorme evolução destes miúdos, quer como atletas de Voleibol quer como homens, desde que chegaram aqui, às nossas mãos, há cinco anos.
É gratificante ver isso, os pais reconhecerem o nosso trabalho e os próprios miúdos adorarem andar aqui no Voleibol.
Há sempre alguns contratempos – alguns pais, o meio em que estão inseridos, Interior, etc. –, mas fazemos isto com gosto.
Andamos nisto porque gostamos do treino, gostamos da escola, do clube, e isso supera os muitos sacrifícios que fazemos para realizar o nosso trabalho, que é feito sempre com muito gosto e só espero poder continuar a fazê-lo durante muitos mais anos”.
 



 


 Edgar Fernandes:
 “Somos um grupo muito unido”

 

Edgar Fernandes, de 16 anos, é o capitão da equipa de Juvenis Masculinos, que já ganhou um título no Desporto Escolar.


“O nosso objectivo sempre foi o Desporto Escolar, participamos no federado, com a ambição de ficar a meio da tabela, mas o nosso objectivo é vencer no Desporto Escolar.
 
Os nossos principais argumentos como equipa são a união e a qualidade do trabalho que realizamos.
Para além disso, os professores ajudam-nos bastante e temos o apoio precioso da escola.

Não é fácil jogar e estudar, mas damos o nosso melhor para conseguirmos conciliar esses dois aspectos importantes da nossa vida.
Dou-me muito bem com os meus companheiros de equipa. Somos um grupo muito unido. É como uma segunda família”.



 

 



 Rui Taboada: “No Interior há mais
 dificuldades em termos competitivos”

 

Rui Taboada, Treinador da equipa de Iniciados Femininos, defende que a formação começa na escola.


É treinador de outras modalidades. Como vê o Voleibol, em termos de treino e trabalho?

RUI TABOADA – “É um trabalho ligeiramente diferente daqueles que realizamos nas outras modalidades. Não sendo a minha área específica, tive de fazer algum trabalho de pesquisa, mas estou a gostar de trabalhar com este grupo.
Acho que nesta região do Interior há mais dificuldades em termos competitivos. O número de clubes não é tão grande como nas grandes cidades, sente-se alguma dificuldade ao nível do trabalho e em relação ao recrutamento, pois não é uma base assim tão larga da pirâmide.
No entanto, vai-se fazendo o possível para que, ano após ano, tenhamos um bom grupo de atletas a praticar a modalidade aqui na escola.
O Voleibol é diferente da outra modalidade com que eu trabalho, que é o Andebol, basta não haver contacto físico entre atletas.
Esta equipa juntou-se há dois anos e estamos actualmente a meio do terceiro ano.
O trabalho não começou pela base, pois recrutamos as atletas já no caminho crescente da sua formação até ao escalão de cadetes, juvenis e juniores. Estão a evoluir em relação àquilo que eram quando começámos a trabalhar com elas, sinceramente, não aquilo que eu estava à espera, mas fico orgulhoso porque noto que hoje em dia já reflectem algum do processo de aprendizagem”.


E o facto de ser um clube/escola ou escola/clube?

RT – “Na minha opinião, isso será o futuro do desporto em Portugal. Ao nível da Formação, os miúdos estão nas escolas e é mais fácil trabalhar porque assim os clubes não precisam de ir atrás dos atletas.
As escolas já têm os miúdos e o recrutamento é mais fácil e, por exemplo, na nossa escola há muito gosto pelo Voleibol, os miúdos em qualquer pausa das aulas estão sempre com uma bola nas redes do recreio.
A formação passará mais pelas escolas, pelo clube/escola e pelo Desporto Escolar e, numa etapa mais avançada, então os clubes poderão vir captar miúdos que têm já a sua formação feita nas escolas e no Desporto Escolar. E penso que aí o trabalho já poderá estar mais facilitado, pois o trabalho de base já foi feito e os clubes poderão vir a beneficiar dessa situação”.






 Juliana Teixeira: “Sempre quis jogar
 no Liceu Latino Coelho”



Juliana Teixeira, de 13 anos, capitã da equipa de Infantis Femininos, mostra-se satisfeita com o desempenho da sua equipa.


“É uma equipa muito entusiasta e que gosta muito de jogar Voleibol. Como capitã, vejo que com as minhas companheiras de equipa formamos um grupo muito unido; apoiamo-nos umas às outras e cooperamos bastante. Às vezes, temos as nossas desavenças, mas conseguimos superá-las com a nossa amizade.
Temos um treinador [Alfredo Ferreira] que é bastante exigente, mas que também nos ajuda muito.
Sempre quis jogar no Liceu Latino Coelho quando era ainda aluna de outra escola, e agora, para além de ter conseguido esse objectivo, ainda sou a capitã e isso é um orgulho para mim.
Somos uma equipa que luta bastante pelos seus objectivos e acho que vamos dificultar a vida às equipas mais fortes”.
 

 

 



Março 2014


 

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