AA S. MAMEDE: PAIXÃO PELO VOLEIBOL
PASSA DE PAIS PARA FILHOS
Imagine-se um clube em que o emblema passa
de pais para filhos, que, quase à nascença, recebem de herança uma paixão
pelo Voleibol, e onde todos constituem uma verdadeira família, cujos laços
se mantêm ao longo da vida, para lá dos caminhos seguidos por cada um e da
distância geográfica.
Sim, existe um clube assim e chama-se Associação Académica de São Mamede...

Nuno Corte Real, Director da Secção de
Voleibol da AA São Mamede, revela o que leva as pessoas a quererem fazer
parte da família do Voleibol.

Quais
são as pedras basilares em que assenta a AA S. Mamede?
NUNO CORTE REAL: “É um clube com 66 anos de história. Uma história
bonita, feita muito na formação, mas também com êxitos nos escalões
seniores,
Eu apareci no clube recentemente, há cerca de oito anos, quando os meus
filhos começaram a treinar no clube. Apesar de ser uma pessoa do desporto,
não tinha ligações ao Voleibol e quando escolhi a Académica para os meus
filhos jogarem fui um pouco influenciado pelo meu sogro, esse sim um antigo
jogador de Voleibol do clube.
Comecei por ir atrás daquilo que ouvia falar, impressões que depois fui
confirmando quando comecei a conhecer melhor o clube e a sentir que é mesmo
uma autêntica família que nós encontramos na Académica.
Essa componente familiar está enraizada há muitos anos, por razões de opção
das Direcções, que resolveram não dar saltos maiores do que a perna.
Com o não-profissionalismo acentuou-se ainda mais a aposta na formação,
quase diria de uma forma exagerada. Isto porque os valores da amizade, do
fair-play, da família estão sempre presentes, mas os nossos jovens também
querem ganhar. E creio que essa força foi um bom alicerce para conseguirmos
melhorar cada vez mais a componente da competição, com o trabalho de
técnicos altamente qualificados”.
A ambição da juventude trouxe os títulos?
NCR: “Nós não podemos deixar os nossos jovens sair para outros clubes
quando querem ganhar títulos, temos de conseguir dar cada vez melhores
condições, apesar de não ser nada fácil.
Temos um pavilhão, dividido por duas modalidades, o Voleibol e o Andebol.
No Voleibol, temos uma aposta muito forte nos minis, o que nos leva a ter
cerca de 150 atletas, nos mickeys temos cerca de 30 atletas. A partir dos
minis há uma dinâmica muito consolidada...
Os títulos valem o que valem, às vezes damos-lhes demasiada importância, mas
também acabam por ser importantes e são fruto de trabalhos anteriores e de
outras presenças em fases finais.
Posso dizer, com muito orgulho, que neste ano temos oito equipas já apuradas
para as fases nacionais e com perspectivas de conseguir bons resultados nas
finais de oito («final eight»)”.
Na
AA S. Mamede, parece haver uma espécie de herança familiar...
NCR: “A verdade é que não podemos descurar toda a tradição do clube,
que continua a ser fundamental e motivadora da procura por parte dos pais,
pois muitos deles foram atletas no clube.
É interessante vermos pessoas, não só de São Mamede, mas de outras zonas
limítrofes, que, por verem coisas que gostam, também procuram o clube.
Por um lado, há esse aspecto competitivo que é quando as equipas começam a
ganhar, tornam-se mais apetecíveis. Por outro lado, é mais difícil ingressar
nas equipas, pois temos de fazer a opção entre ter vinte e tal atletas por
escalão ou ser campeão.
Tem de haver um equilíbrio. Nós gostávamos muito de poder potenciar o
Voleibol social, pois nem todos os jovens têm a mesma aptidão nem as mesmas
apetências; alguns não gostam de competir e não lhes podemos fechar a porta.
O problema é que não temos espaço.
O que estamos a tentar fazer? Por um lado, temos os pavilhões das escolas à
volta, por outro, estamos a tentar que pelo menos alguns dos nossos atletas
vão treinando com os escalões superiores, para assim conseguirem ter pelo
menos quatro treinos por semana.
Os treinadores esforçam-se imenso. É com muito agrado que eu vejo, por
exemplo, num dia de feriado, as equipas a treinarem. Aos sábados de manhã,
temos muita gente a treinar.
Temos treinadores totalmente disponíveis, que para além de competentes,
acreditam no trabalho que é realizado no clube”.
A
qualidade dos treinadores e das equipas e a quantidade de atletas abre boas
perspectivas?
NCR: “Por princípio, sou positivo e acredito sempre que vamos
conseguir dar a volta por cima.
Os momentos de crise ajudam-nos a ser mais criativos e a ser ainda mais
criteriosos nos gastos...
Contudo, os clubes também herdaram outro tipo de herança: estão demasiado
habituados e dependentes dos subsídios que vêm de fora.
No caso da Académica, a Câmara Municipal de Matosinhos, através de um
protocolo que fez com os clubes do concelho, atribuía uma determinada verba
que, no nosso caso, representava quase cerca de 50 por cento do nosso
orçamento, e de repente este ano temos «zero» de subsídio... Estamos com
esperança de que essa verba seja desbloqueada, como foi prometido, inclusive
publicamente, pelo Presidente da Câmara.
Os treinadores são muito compreensivos, mas devo denunciar uma coisa que
mexe muito comigo: neste momento, a Académica tem as suas contas mais ou
menos controladas, mas estamos com dificuldades para honrar os nossos
compromissos.
E aumentam as dificuldades em angariar patrocínios, dado que as empresas
também estão a baixar o seu apoio.
Por outro lado, temos uma massa imensa de pais, com muita vontade de ajudar,
alguns bem colocados, com bons contactos, e estamos a ver se conseguimos
colmatar isso”.
Que
soluções estão a ser equacionadas?
NCR: “A situação é precária e há o risco de termos de reduzir a
actividade desportiva, mas o projecto da Académica não vai acabar de
repente.
Podemos sofrer alguns abalos, em termos de quantidade e de qualidade de
trabalho, porque estamos com dificuldades a nível de espaços e de cumprir
com os nossos treinadores, mas iremos fazer alguns ajustes.
Qual é a maior ameaça? Se não há dinheiro, o mais fácil é acabar-se com as
equipas seniores, mas num clube formativo como o nosso tem de haver aquela
luzinha que é o objectivo de poder vir a jogar na equipa sénior...
Existe outra equipa, que joga fora do recinto de jogo, que é uma
equipa de cerca de 12 a 14 pais, muito activos.
Juntamo-nos às terças-feiras em reuniões muito animadas, e quase diria que a
menina dos meus olhos como director é este «núcleo duro» que quer muito
ajudar. Sem essa colaboração, então isto iria ser muito mais complicado.
Acho que temos muitos bons exemplos de equipas que estão a ser muito bem
trabalhadas e desde há muito tempo, e há este grupo de pais fantástico que
dá tudo pelo clube.
Isto porquê? Sentimos que o clube, assim como a escola, é uma instituição
que nos ajuda a formar os nossos filhos.
Os treinadores são quem cuida dos nossos filhos. Às vezes cometendo erros.
São na sua maioria jovens, às vezes digo-lhes quando forem pais vão perceber
melhor a dificuldade que há em marcar treinos fora de horas, mas são jovens
muito capazes e com grande vontade de crescer com o clube.
Estamos a conseguir pôr as equipas a verem jogos umas das outras. O que é
muito saudável.
Não me esqueço que, no ano passado, em Esmoriz, tínhamos uma bancada cheia
no jogo de iniciados, que por acaso nós ganhámos, correu bem e foi mesmo a
cerejinha no topo do bolo, pois isso ajuda sempre a consolidar o projecto.
Foi fantástico ver todos os escalões representados naquela bancada. A
família da Académica reunida em torno de uma das suas equipas”.
Nuno Coelho: “Procuramos sempre
ser mais fortes desportivamente”
Nuno Coelho é o Coordenador do Voleibol. Treinador e jogador dos
seniores masculinos, exalta as qualidades éticas, sociais e desportivas de
um clube que este ano completa a bonita idade de 67 anos.
A
AA S. Mamede é um dos clubes «históricos» do Voleibol português, conhecido,
sobretudo, pelo seu trabalho com os mais jovens...
NUNO COELHO: “Desde a sua génese é um clube que apostou muito na
formação e que procura juntar uma componente social, onde é muito forte, a
uma componente desportiva, onde se está a tornar, na minha perspectiva, cada
vez mais forte.
É um clube que já conquistou 21 títulos nacionais, excluindo desta
contabilidade os títulos de Mini-Voleibol.
Procuramos sempre ser mais fortes desportivamente. Temos alguns problemas
típicos dos clubes de formação, nomeadamente pôr a treinar no mesmo pavilhão
mais de 300 atletas, juntamente com os do Andebol. Para isso, temos de
procurar outros espaços, dentro do nosso Município.
Felizmente, temos conseguido que as nossas equipas tenham um volume de
treino muito aceitável. E conseguimos hoje que uma grande parte das nossas
equipas de formação lute pelos títulos nacionais, o que muito nos orgulha.
Na época transacta, vencemos o Campeonato Nacional de Iniciados Masculinos e
o Campeonato Nacional de Infantis Femininos, títulos que provam que estamos
a conseguir abranger os dois sexos com um trabalho de continuidade.
Este ano, acredito que vamos lutar por mais títulos, provavelmente vamos
estar em seis fases finais «final eight» do Campeonato, que é um dado muito
forte e que caracteriza o nosso trabalho na formação”.
Essa aposta na formação parece ter levado os antigos atletas a criarem um
elo com a AA S. Mamede...
NC: “É um clube que não deixa as pessoas indiferentes. Quem passa por
aqui sente claramente que é parte de uma família.
Embora o futuro dos nossos atletas na modalidade não passe forçosamente pela
Académica de S. Mamede, eles não vão deixar de ser um membro da família, não
vão deixar de sentir o emblema, não vão deixar de sentir o clube.
E temos alguns exemplos de pessoas que hoje não estão no clube a praticar
desporto mas que aparecem semanalmente. Temos o caso do Carlos Teixeira, que
joga em França, e que nos contacta todas as semanas para saber como é que
estão as coisas, como é que correu determinado jogo, como é que está aquela
equipa, etc., porque este é o seu clube do coração e continua a manter
connosco uma ligação muito forte”.
Essa ligação sai reforçada pelo facto de terem optado por jogadores
não-profissionais?
NC: “É uma estratégia bem definida pelo clube desde há muitos anos. É
um clube amador, de formação, não tem condições financeiras para ter atletas
profissionais, nem sequer remunerados. É bem claro que os nossos atletas são
cem por cento amadores, não auferem qualquer vencimento e nessa perspectiva
procuramos fazer as nossas equipas de seniores na sua grande maioria com
jogadores formados no clube”.
E como é que se consegue conciliar as funções de Coordenador, treinador,
jogador e...
NC:
“... E o que mais for preciso. Quando se está num clube como este, que é
como a nossa segunda família, nós estamos dispostos a fazer aquilo que é
preciso, o que nos pedem, e com todo o gosto.
A minha função profissional é ser o Coordenador do Voleibol, esta época foi
também a de Treinador dos Seniores Masculinos mas se for preciso fazer o que
quer que seja não me custa nada. Sou, como se costuma dizer, pau para
toda a obra e tento ajudar o clube naquilo que me é solicitado.
Diria que como coordenador sou mais o treinador adjunto dos treinadores.
Procuramos ter uma filosofia de trabalho desde o Mini-Volei até aos
seniores, cumprindo algumas etapas de formação e eu serei essa ligação entre
treinadores. Serei um ajudante dos nossos treinadores, aquela pessoa que
delineia ali alguma política desportiva e alguma filosofia de trabalho e
nessa perspectiva tento estar próximo dos treinadores. De vez em quando,
estou no banco e humildemente tento dar a minha contribuição. Num projecto
com nove equipas de formação, não é fácil abrangê-las todas, no entanto,
tento desdobrar-me de forma a poder ser útil.
Pode-se
dizer que a Académica é um clube de «pais para filhos»?
NC: “É uma expressão que nunca tinha ouvido relacionada com o clube,
mas que faz todo o sentido porque os meus filhos já jogam na Académica de S.
Mamede, a maior parte dos filhos de ex-jogadores acabam por jogar na
Académica, não sei se por vocação, se por influência dos pais, mas como pai
sinto-me muito feliz e agradado e sinto uma grande protecção dos meus filhos
quando eles estão aqui.
O lema do nosso clube é «mente sã em corpo são», é um lema que vem da sua
fundação e que tenta ser transmitido de geração para geração com grande
preocupação social e desportiva. Foi assim que me ensinaram a estar aqui
dentro e é assim que nós procuramos ensinar aqueles que hoje praticam
desporto na Académica de S. Mamede”.
Com base neste sentido de missão, há pessoas neste grupo de trabalho que
merecem ser homenageadas, por muito que não gostem de aparecer: os pais,
todas as pessoas que nos ajudam em todo o trabalho social e desportivo, e a
Marta Leão, que é uma pessoa que todos nós não podemos deixar de nomear pela
sua importância na nossa família, pelo seu trabalho e pela sua dedicação e
por cumprir tão bem esse papel de missão dentro do nosso clube.
Um bom exemplo desse espírito é que temos um projecto a decorrer anualmente
que é o «Académica Solidária», iniciado e gerido por pais de atletas, onde
procuramos apoiar instituições carenciadas, crianças com algumas
dificuldades, desde brinquedos a roupa, alimentação e felizmente temos tido
uma grande colaboração por parte da família da Académica, os pais e
familiares de atletas têm contribuído para que este projecto esteja a ser um
sucesso”.
E como vê o futuro?
NC: “Vejo o futuro deste clube exactamente da forma como vejo o
presente. O Voleibol é um projecto que não está sustentado em dinheiro, mas
sim em pessoas, em pessoas que muito contribuem para o sucesso do clube e
essas pessoas são pessoas do clube, não são pessoas que estão de passagem.
São pais de atletas, que também se renovam, porque entram novos atletas e
mais pais dão a sua contribuição e vejo o futuro do clube a processar-se
exactamente da forma em termos estruturais que se passa hoje.
De qualquer forma, a Académica de S. Mamede não é alheia às dificuldades
financeiras que os clubes atravessam e vive com algumas dificuldades para
fazer face às suas despesas correntes, mas essa é uma dificuldade que não
põe em causa o nosso futuro”.
Clara Braga da Cruz: “Investimos na qualidade dos treinadores
e numa boa ligação com os pais”
Clara Braga da Cruz, Coordenadora do Mini-Voleibol, é uma espécie de
gestora de recursos humanos.
O
que é preciso para gerir tanta pequenada?
CLARA BRAGA DA CRUZ: “Para termos uma ideia do número de crianças com
que trabalhámos, no Mini-Volei, ou seja, nos minis A, minis B e nos mickeys,
temos cerca de 180 atletas. Temos 30 mickeys, que trabalham em dois turnos,
o primeiro dos 3 aos 4 anos, e o segundo dos 5 aos 6 anos. Nos minis A,
temos cerca de 100 atletas e nos minis B, masculinos e femininos, entre os
25 e os 30 atletas.
Primeiro, é preciso ter uma boa equipa de trabalho. Eu funciono como
coordenadora, mas temos um leque grande de treinadores. Investimos na
qualidade dos nossos treinadores e isso já ajuda bastante. Depois, é
importante haver uma boa ligação e uma coordenação muito grande com os pais.
Quando fazemos torneios em casa, precisamos da sua ajuda, já que sem eles
não era possível.
E o facto de os atletas gostarem de estar cá é muito importante pois vão
aparecendo cada vez mais. São como cogumelos... a nossa divulgação não é
muito grande, é só numa fase inicial, no começo do ano, e depois eles vão
aparecendo e à medida que o tempo vai decorrendo vamos começando a ter um
número elevado de atletas. Só para terem uma noção, quando começámos a
trabalhar no clube, há oito anos, tínhamos 12 atletas minis A e B, femininos
e masculinos”.
Trabalhar com uma quantidade tão grande de crianças é muito exigente?
CBC: “É sempre muito gratificante. A nossa aposta em termos de
Mini-Volei é ter um grande número de atletas, até porque somos a base, da
formação, e dar qualidade ao trabalho. Este ano fizemos algo que nunca
tínhamos feito, que foi fechar as inscrições nos Minis A, pois 100 é o
número ideal para trabalhar, tendo em conta as nossas condições de trabalho,
e tivemos de criar uma lista de espera para podermos dar qualidade ao treino
e ao trabalho que estamos a desenvolver”.
Com tantos miúdos e com a sua vontade de competir, como é feita a gestão
dessas vontades?
CBC: “Fazemos uma planificação mensal, reunimos mensalmente com os
treinadores para estipularmos o que vamos trabalhar. E trabalhamos por
níveis. Nos Minis A, é notório, já que os treinadores vão saltando de nível,
ou seja, num mês ficam num nível no outro mês noutro nível e assim
sucessivamente.
Na parte inicial do treino fazemos sempre um trabalho de coordenação motora,
depois treino técnico e depois uma parte dedicada ao jogo, que é o que
gostam mais.
Quando participamos em torneios, a nossa política é levar todos os atletas.
Eles treinam para jogar, ninguém gosta só de treinar. Tentamos que todos os
atletas possam entrar nos torneios e possam participar. Nos Minis B, levamos
sempre três equipas de femininos e três de masculinos ao torneio da
Associação de Voleibol do Porto. Agora, nos Minis A, já conseguimos levar 18
equipas, algo que só é possível com a ajuda de vários atletas e treinadores
do clube, que aproveito para agradecer publicamente.
O envolvimento dos atletas e dos pais, quer na organização de competições
quer em termos de transporte – não há um autocarro que dê para 100 atletas –
é crucial, já que nós tanto jogamos em casa como noutros clubes. A
competição é muito importante e faz parte do processo de treino”.

E eles acompanham o trabalho dos mais «velhos»?
CBC: “Acompanham e costumam assistir aos jogos. Uma coisa que é
engraçada aqui nos minis é que temos muitos atletas que são irmãos de
atletas de outros escalões e por isso essa ligação já está feita só por si.
Depois, tentamos envolvê-los nos jogos dos seniores, como apanha-bolas e
eles gostam imenso. Outra coisa que estimula é que o treinador dos rapazes é
jogador dos seniores masculinos. E o facto de quererem ver o treinador a
jogar, faz com que os atletas queiram estar presentes nos jogos. Criamos uma
ligação e um envolvimento muito grande com outros escalões e trazemos também
atletas de outras equipas aos treinos dos Minis. Organizamos competições em
que os escalões de Juvenis e de Iniciados vêm jogar com os mais pequeninos e
estes ficam todos contentes por jogar com os mais velhos”.
Os
mais velhos servem de modelo para os mais novos?
CBC: “Apesar de a equipa não estar na I Divisão, tem bons atletas,
que além de serem bons desportivamente, sabem estar e uma das nossas
principais preocupações é a formação do atleta como pessoa. O saber estar em
termos desportivos é muito importante para nós. Uma das referências é o
Dinis Leão, que joga nos juvenis e nos juniores, o Afonso Leão também é uma
referência, o Nuno Pereira, o Nuno Coelho, são jogadores com os quais se
identificam e que gostam de ver jogar. E nas raparigas é a mesma coisa”.
A Académica é um clube que defende causas sociais. Os miúdos estão
alertados para isso?
CBC: “Uma das nossas preocupações é envolver a família. Reunimos e
fazemos uma planificação que envolve a família em torneios, torneio do dia
da Mãe, torneio do dia do Pai, Torneio dos Avós, para os mickeys. Chamamos
os avós aos treinos e optamos por fazê-los participar com jogos
tradicionais, que são áreas que eles dominam e por isso podem transmitir aos
seus netos conhecimentos de actividades que podem realizar.
Depois, temos a «Académica Solidária», em que incentivamos os miúdos a
ajudar aqueles que têm menos do que eles. O papel deles é fundamental pois
são eles que escolhem os brinquedos que estão bons e que podem entregar
aqui. Comida, roupa, eles próprios fazem essa selecção.
No início, quando arrancámos com a campanha, também os incentivámos para que
fizessem desenhos representativos dessa acção e que pudessem ser expostos.
Depois, também criamos algumas actividades com outros escalões, como a festa
final do ano em que há um churrasco em que está toda a gente envolvida e o
convívio é óptimo”.
Treinadores e atletas da AA São Mamede
Davide
Carvalho, treinador da equipa de seniores femininos
“Sou treinador das seniores, mas já treinei vários escalões de formação,
quer de femininos quer de masculinos, e continuo ligado à formação no
sentido de fazer a interligação entre as seniores e os restantes escalões e
toda a uniformização do processo de treino. Para isso, não só dou o meu
contributo aos escalões mais jovens, como também chamo treinadores da
formação para trabalhar comigo nos seniores e, inclusivamente, algumas
atletas da formação que chegam a ir treinar com a equipa sénior.
“Há muitos atletas, principalmente nos femininos, e debatemo-nos com o
problema do espaço. Aqui, na Académica, apenas podemos treinar três dias por
semana e queremos dar quatro treinos por semana a cada escalão e isso
torna-se muito complicado. Temos de ir treinar às escolas e arranjar outros
espaços alternativos.
Embora com muito poucos apoios, conseguimos dar os quatro treinos a cada
escalão, mas mesmo assim precisamos que as atletas de um escalão façam
treinos com outros escalões seguintes ou, eventualmente, treinem com as
seniores, para verem qual é o objectivo ao qual pretendem chegar”.
O facto de não serem profissionais funciona como um pró ou um contra?
“Acaba por ser um contra. A maior parte das vezes não temos todas as atletas
que queríamos ter no treino. Temos dificuldade em articular não só o número
de atletas como também as de posições específicas, e essa é uma das razões
pela qual uma vez ou outra vamos buscar juniores ou até de outros escalões
mais jovens para complementarem o treino das seniores.
Combatemos isso com um enorme espírito de entreajuda. Temos muitas atletas
das seniores a ajudarem no trabalho com outros escalões, acabam por se
conhecerem todos melhor e criar-se um ambiente de família muito grande.
Existe um espírito de família, que se reflecte na disponibilidade de todos
para ajudarem, tanto os atletas como os treinadores, os pais, os delegados,
os directores, todos estão aqui numa função não estritamente profissional
mas mais numa missão pessoal”.
Treinou vários escalões. Como viu a evolução dos últimos anos?
“Creio que nos últimos anos temos vindo a fazer um trabalho mais coerente e
temos vindo a evidenciar um crescimento a nível competitivo. No fundo, o
trabalho social sempre foi feito e continua a ser.
A nossa equipa ainda está em construção, com muita gente nova, mas que
continua a querer apostar nas atletas que vêm da formação e no potencial dos
atletas mais novos”.
Afonso
Leão, treinador dos juvenis femininos e minis B masculinos
“Treinar uma equipa de juvenis femininos e outra de minis B masculinos
representa um grande desafio. Temos de trabalhar de forma diferente nos
masculinos e nos femininos. Preparamos os mais novos para poderem integrar
os escalões seguintes,
Nas raparigas, o tipo de jogo é mais técnico, de controlo de bola, de
sustentação; nos rapazes, é um jogo mais físico, mais forte, tem técnica,
mas puxa mais pelo físico dos atletas.
O clube procura ter como treinadores pessoas da casa, atletas do clube que
estão cá há muitos anos. Comecei por treinar os minis b e no ano passado
tive a oportunidade de treinar um escalão mais acima. Continuei com o
trabalho dos minis B, treinei os iniciados e este ano iniciei-me no voleibol
feminino, que é um desafio diferente.
Queria experimentar o que seria treinar uma equipa de femininos e posso
dizer que está a ser uma experiência muito positiva. É muito diferente.
Quando elas estão focadas e motivadas para trabalhar, são capazes de estar a
fazer o mesmo exercício uma hora inteira sem questionar muito. Têm muita
capacidade de sacrifício.
Confesso que, pelas minhas características, acho que conseguirei ter mais
sucesso como treinador de equipas femininas”.
Pedro
Carvalho, treinador dos iniciados femininos
“Esta época o trabalho está a correr muito bem. Fomos vice-campeões
regionais e só perdemos um jogo, com o Arcozelo.
Já estou com elas há quatro anos e desde o ano de arranque que temos tido
alguns objectivos competitivos. O primeiro foi passar às finais, no segundo
ano fomos terceiros classificados no Campeonato Nacional de Minis, o que já
foi muito bom.
O objectivo sempre foi melhorar, dentro das possibilidades, e o ano passado
conseguimos o título. Este ano, vamos tentar revalidá-lo, mas não estamos
obcecados com isso, pois trabalhamos para ser cada vez melhores e conseguir
levar as atletas até à equipa sénior.
Esse é um dos objectivos principais, conseguir que as atletas vinguem nas
equipas seniores.
Temos apostado muito na formação. Todas treinam quatro vezes por semana e
isso é imprescindível para que consigam evoluir e também fazem muito
trabalho em conjunto com as juvenis, o que faz com que consigam evoluir e
isso tem sido muito benéfico para a equipa.
As minis vêm treinar com a minha equipa, as infantis também e eu faço
questão de ter jogos treino com as cadetes e com as juvenis, tendo já quatro
atletas ido treinar às seniores, que é um patamar muito bom e para elas fica
a referência e a vontade de representar a equipa sénior.
É um clube com uma vertente social muito grande. O grupo é de 22 atletas,
mas temos uma disciplina que nos permite ter também objectivos competitivos
e essa parte é muito importante, pois permite conciliar a parte social e a
parte competitiva. Para mim, é isso que representa a Académica, pois
conseguimos ter os dois valores muito presentes.
Actualmente, esse é um sonho mais forte do que ser profissional e ganhar
dinheiro. Esse é o espírito do clube: jogam por gosto e com muita vontade”.
Testemunhos
Tomás
Correia, jogador dos iniciados masculinos
“Jogo na Académica há cinco anos. É uma equipa unida, que faz parte de um
clube fantástico e onde podemos criar novas e boas amizades. As pessoas
acolhem-nos de uma forma excelente. Estou muito bem aqui e espero vir a ser
campeão nacional.
Modelo? O Professor Nuno Coelho, passador da equipa dos seniores masculinos.
Espero um dia conseguir ser como ele.
A palavra que define melhor a minha equipa é amizade”.
Raquel
Pereira, 16 anos, jogadora da equipa de cadetes femininos
“Estou aqui há sete anos. O clube tem cada vez mais atletas e isso é muito
bom pois permite-nos conhecer mais pessoas, de idades e de localidades
diferentes
No meu caso, vim por intermédio de uma amiga minha, que jogava na Académica,
mas creio que existe muita comunicação e todos falam bem do clube, o que
leva outros atletas a quererem jogar cá. O ambiente é muito bom e damo-nos
todos bem. Não é surpresa que queiram vir para aqui.
Este é o melhor clube, é fantástico. Aqui aprende-se a jogar Voleibol, a
conviver, a saber viver em comunidade”.
Maio 2013

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