ROSÁRIO VÓLEI: UM PROJECTO
AMBICIOSO E INOVADOR


O Colégio da Nossa Senhora do Rosário, no Porto, volta a estar nas bocas do mundo. Desta vez por razões que não se confinam ao meio académico.
Com 140 anos de existência e uma década de experiência no Voleibol, mais concretamente nas camadas jovens de femininos, o estabelecimento de ensino privado, primeiro classificado no ranking do secundário, aposta agora num projecto de formação desportiva ambicioso e inovador, que poderá tornar-se um exemplo para outras instituições no nosso país. Os frutos começ(ar)am já a aparecer...

João Trigo é o Presidente do Rosário Vólei e Director do Colégio de Nossa Senhora do Rosário e encara este novo desafio com a confiança própria da sua condição de jurista.
No desporto, como nos estudos, o Colégio do Rosário quer ser o melhor. A importância da prática desportiva na formação equilibrada do jovem aluno é um objectivo prioritário, mas os resultados das equipas, por serem mais mediáticos, são também alvo de atenção e análise.



O que motivou um colégio conhecido pelo sucesso do seu sistema de ensino a criar um projecto tão ambicioso no desporto?


JOÃO TRIGO: “Uma das nossas grandes apostas é mostrar que o nosso foco não está, nem nunca esteve, só nos resultados académicos. Somos conhecidos por outras acções, como, por exemplo, a questão do voluntariado – temos muitos projectos nessa área –, e quisemos acrescentar a todas essas actividades, que já desenvolvíamos, um projecto forte na área do desporto.
A nossa perspectiva é a de formação integral dos alunos e consideramos que esta componente física é tão importante como muitas outras: a dimensão artística, o sentido estético, a formação para valores, a dimensão espiritual,... a par com as componentes mais académicas, relacionadas com o conhecimento e com os resultados escolares.
O desporto é uma vertente que consideramos muito importante para o equilíbrio da pessoa. Sempre apostámos no desporto e criámos excelentes infra-estruturas na área desportiva; aliás, talvez seja das áreas em que o Colégio está melhor dotado.
O trabalho na área do desporto faz-se quer na componente curricular, através da disciplina de Educação Física, quer através de actividades que chamamos de enriquecimento curricular e que os alunos podem escolher facultativamente.
Fizemos uma grande aposta no voleibol feminino porque nos pareceu importante termos uma modalidade que, de alguma forma, constituísse um modelo para tudo o resto, que fosse à frente e tivesse resultados de maior visibilidade, gerando interesse e entusiasmo e assim aprofundando a cultura da prática desportiva e do exercício físico em toda a comunidade educativa.
Na realidade, o voleibol é um desporto de equipa muito interessante, que pelas suas regras e características, tem um enorme potencial formativo e educativo.”


Ao querer ver o voleibol como modelo rodeou-se de algumas das maiores referências da modalidade...


JT: “Tal como o voleibol é uma referência para todo o desporto e prática física no colégio, também o Miguel Maia e o João Brenha, bem como outras figuras de relevo da modalidade e algumas atletas que integrámos no projecto, são referências importantes para os nossos alunos mais jovens.
Temos praticantes desde os seis anos e, a partir daí, em todos os níveis etários. Ter algumas referências que já conseguiram resultados assinaláveis e têm visibilidade pública é um incentivo e é um factor gerador de entusiasmo. Essa componente mais mediática do desporto, associada a factores como o convívio entre atletas e os próprios resultados, compensam outros factores de grande exigência, que necessariamente têm que estar presentes num projecto deste tipo, como são o esforço para fazer cada vez mais e melhor, a disciplina, o sentido de equipa e algum espírito de sacrifício. Pensamos que termos connosco atletas como o Miguel Maia e o João Brenha é, nesse sentido, uma excelente aposta, pois são indiscutivelmente uma referência do Voleibol e, muito provavelmente, verdadeiros ídolos para algumas das nossas praticantes e para todos os que gostam do voleibol.”


Como Director do Colégio, interessa-lhe sobretudo a resposta por parte das alunas e dos pais...


JT: “É verdade e a resposta tem sido muito boa. Ainda estamos numa fase inicial e, apesar de tudo estar a acontecer de uma forma muito rápida, já temos elevados níveis de entusiasmo e de adesão. A minha expectativa é que, com o passar do tempo, esses aspectos se vão acentuar cada vez mais.
Os pais das atletas normalmente acompanham as filhas e já há outros pais de alunos, professores e colaboradores do Colégio que, mesmo não tendo as filhas directamente envolvidas, vêm assistir aos jogos. Pensamos que aí estão outras vertentes que são muito interessantes de explorar, que são o entusiasmo, o espírito de equipa, o reforço do sentido de comunidade que o desporto e a competição podem proporcionar.
Essa também é, de facto, uma aposta muito intencional. Mais importante do que os resultados obtidos por cada equipa, este projecto pode funcionar como um catalisador de toda a comunidade, reforçando as relações entre pessoas, proporcionando oportunidades de encontro e de convívio.
Por causa do Voleibol, todos os fins-de-semana mobilizamos imensa gente, aqui no Colégio e nos outros locais a que nos deslocamos para jogar.
Ainda há muito caminho para percorrer, mas com o desenvolvimento da competição e com o aparecimento dos resultados, como já está a acontecer, vão-se gerar ondas de entusiasmo crescente”.


O entusiasmo que se vive é suficiente para justificar uma equipa de seniores?


JT: “Pensamos que essa será uma sequência natural do trabalho que estamos a realizar. Temos já atletas de alto nível, integradas nas diferentes selecções nacionais e, pelo menos uma, para o ano, terá idade de sénior. Também temos algumas atletas a jogar em escalões mais jovens que, pela competência que têm, estão a um passo, ou mesmo já ao nível, de jogar nos seniores, pelo que a nossa ideia é avançar com uma equipa de seniores no próximo ano”.


Como é que está a reagir o Colégio, no seu todo, a este projecto?

JT: “Tudo está a ser tão rápido e é tão recente que, se calhar, nem toda a gente se apercebeu ainda da dimensão do projecto. Mas poderão fazê-lo através das nossas publicações, da revista [Aprender], que está agora a ser enviada para a comunidade e para outras entidades, e dos cartazes que vamos colocando no Colégio. Os jogos e a divulgação dos resultados também vão permitir que a comunidade vá consciencializando o que aqui está em causa, porque é, de facto, um projecto grandioso, que está a ser muito bem-sucedido”.



 Incentivar as atletas/alunas
com bolsas de estudo



JT:
“Em paralelo com aquilo que se passa noutros países, que já apostam há muito tempo na formação física e desportiva, estamos a atribuir algumas bolsas a jovens que têm uma performance acima da média, de modo a poderem vir jogar connosco.
Ao atribuirmos, como incentivo para se envolverem no nosso projecto, uma bolsa de estudo, elas têm a oportunidade de estudar aqui sem ter custos com propinas. Algumas provavelmente nunca teriam condições para fazer esta escolha de estudar numa escola privada do nível da nossa e a prática do Voleibol vai-lhes proporcionar isso”.


Sentem, de alguma forma, uma responsabilidade acrescida pelo facto de as comunidades académica e desportiva terem os olhos postos no vosso colégio?


JT: “Não enveredámos por este caminho para sermos diferentes, mas porque acreditamos que é o caminho certo. Não é por acaso que outros países que, tradicionalmente, dão mais importância ao fenómeno desportivo e à prática física como elementos integrados na formação dos indivíduos, já têm um modelo semelhante àquele que nós adoptámos. Fazem-no porque vão um pouco à frente, estão mais evoluídos, mas nós já entrámos nesse caminho e acredito que outras escolas, nomeadamente escolas privadas, irão seguir-nos”.


O seu envolvimento pessoal tem antecedentes no Voleibol?


JT: “Curiosamente, não! Tem antecedentes no desporto, pois sempre gostei de desporto e pratiquei diferentes modalidades desportivas e procuro, ainda hoje, ter alguma prática física.
Mais do que o interesse pelo Voleibol, tive sempre muito interesse pelo desporto em geral e reconheço-lhe um enorme potencial formativo.
Embora se possa dizer que despertei recentemente para esta modalidade, na verdade o Voleibol cativa facilmente e sigo-o actualmente com muito interesse! É uma modalidade com uma estética muito própria, que tem regras e uma forma de se jogar que implicam valores que estão muito sintonizados com os valores que nós, enquanto escola, privilegiamos na nossa acção educativa: o respeito pelo adversário, materializado na quase inexistência de contacto físico, ao contrário do que se passa noutros jogos de equipa; o facto de não ser possível fazer antijogo, nomeadamente através das perdas de tempo, pois é um desporto muito rápido e com regras muito precisas, que não possibilitam paragens; o desenvolvimento da rapidez de raciocínio... Acho que há aqui uma série de aspectos que se alinham bem com as nossas perspectivas e valores enquanto instituição educativa”.


Uma escola de excelência terá, então, equipas de excelência?


JT: “Uma escola de excelência faz-se pelo somatório de muitas áreas em que se trabalha permanentemente perseguindo a excelência. Essa sempre foi a nossa aposta, desde as infra-estruturas físicas, passando pelas pessoas, que são fundamentais, até aos projectos... Com tudo isso reunido, os resultados acabam por aparecer.
Por outro lado, a excelência não é algo que se adquire e permanece em definitivo; antes é um caminho contínuo.
Como tal, procuramos potenciar ao máximo qualquer projecto em que nos envolvemos e no desporto, nomeadamente no desporto de competição, isso representa ter resultados, chegar à frente, persistir em sermos capazes de nos superar! Claro que isto a par com o respeito pelos adversários, com o saber ganhar e o saber perder. Essa é a matriz do desporto e da competição: ir tão longe quanto possível, respeitando as regras do jogo! Nós queremos fazer esse percurso bem feito e chegar o mais longe possível, o que, no fundo, é o que procuramos fazer em todos os nossos projectos”.


Neste projecto, como nos outros, estão confiantes em relação ao futuro?


JT: “Claro que sim, pois já conhecemos bem o caminho do sucesso enquanto escola... Um colégio de sucesso não o é por acaso; resulta de se fazerem boas opções e também de se procurar ir sempre mais além, não nos acomodando com os resultados já conseguidos!
Acabámos de ganhar os campeonatos regionais em três escalões, mas já estamos de novo a trabalhar para procurarmos ganhar os campeonatos nacionais, como se ainda não tivéssemos ganho nada.
Acredito que, se formos capazes de continuar a trabalhar, com forte espírito de equipa, temos grandes possibilidades de atingir os nossos objectivos. Sempre insisti na importância de acarinharmos a ideia de que somos todos parte de uma mesma equipa. Tenho a consciência de que no universo desportivo nem sempre é assim. Por vezes, cada equipa, cada treinador, cada jogador, tendem a olhar apenas para si próprios e para os seus objectivos, desenvolvendo sentimentos de rivalidade até dentro do próprio clube. Tentamos que isso não aconteça neste projecto e, por isso, todas as semanas reunimos em conjunto as diferentes equipas técnicas e responsáveis do clube, para reforçar o sentimento de que somos todos uma mesma equipa e que os interesses do todo estão acima dos interesses de cada uma das partes. Em relação às atletas, é com enorme satisfação que vemos a sua capacidade de relação, de integração de novos elementos, de trabalho em conjunto, independentemente do escalão e da equipa em que cada uma se integra.
Também nas relações com o exterior, queremos que tudo se passe nesta linha, queremos ter um bom entendimento com todos os nossos parceiros, desde a Federação Portuguesa de Voleibol, passando pelas selecções nacionais, até aos outros clubes. Penso que isto é importante e que é possível, o que também poderá marcar uma diferença do nosso projecto, pois não queremos estar de costas voltadas para ninguém.
Este é um dos principais papéis da liderança: colocar as pessoas em diálogo, em função de objectivos comuns, previamente definidos, não permitindo desvios por aspectos relacionados com perspectivas pessoais que se queiram sobrepor aos valores e interesses do conjunto”.




 Miguel Maia define objectivos:
“Títulos nacionais e atletas na Selecção Nacional”



Miguel Maia é o Director Desportivo do Rosário Vólei.
O atleta, que participou em três torneios de Voleibol de Praia dos Jogos Olímpicos, tendo ficado por duas vezes a um lugar do pódio, abraçou sem hesitações o novel projecto do Colégio do Rosário, que considera poder vir a constituir um modelo a adoptar por mais instituições.


O que levou um atleta ainda em actividade e com uma carreira internacional a abraçar este projecto?

MIGUEL MAIA: “A minha carreira já leva algum tempo. Estou mais perto do fim do que do início. Tenho muitos anos como atleta e preciso de começar a programar o meu futuro, que, espero, seja ligado à modalidade que eu escolhi e pela qual nutri sempre uma grande paixão.
Nesse sentido, aproveitei a oportunidade de integrar um projecto ambicioso de um colégio sério e líder a nível nacional em termos de estudos.
Este projecto aparece fora das linhas normais do que é o desporto em geral em Portugal, caracterizando-se por ser muito ambicioso, sério e com pernas para andar”.


O que levou a que os resultados tenham começado já a aparecer, apesar de o projecto estar ainda a dar os primeiros passos?

MM: “Primeiro, porque fizemos um recrutamento de atletas de bastante qualidade, juntando-as a outras que tínhamos já no colégio, e acrescentámos uma mais-valia que, embora seja cedo para fazer avaliações, é já evidente, que é a qualidade dos nossos treinadores.
Depois, quando se faz um bom trabalho, os resultados e os dividendos desportivos acabam sempre por aparecer e vai havendo uma evolução natural, quer a nível individual quer colectivo, e, por isso, penso que estamos no bom caminho. Mas o percurso é bastante longo e não nos sentimos satisfeitos apenas com estes títulos regionais que tivemos em cadetes, juvenis e juniores.
Sabemos que competimos contra equipas muito boas e clubes que têm feito um trabalho excelente ao longo dos anos, mas este projecto do Colégio do Rosário é duradouro. Queremos cimentar bem o clube nos principais escalões e depois procuraremos estar sempre nas decisões dos títulos regionais e nacionais e colocarmos cada vez mais atletas nas selecções nacionais”.


O próximo passo natural será uma equipa de seniores?

MM: “O colégio equaciona fazer uma equipa de seniores para competir já na próxima época. Vamos candidatar-nos à I Divisão, como está previsto nos Regulamentos, e penso que temos atletas com bastante qualidade nas juvenis e nas juniores e mais algumas que poderemos vir a recrutar para este projecto, conjugando assim os nossos interesses e ambição com os das atletas.
Este é um exemplo que podemos ligar aos Estados Unidos ou ao Brasil, onde vários colégios e universidades acabam por distribuir algumas bolsas de estudo a atletas de referência e a atletas com qualidade, quer sejam da Selecção Nacional ou estrangeiras de qualidade acrescida para valorizar o projecto em si.
O colégio enveredou por essa via e recrutou atletas que são importantes para o projecto, dando-lhes em troca uma bolsa de estudo no colégio que tem estado em primeiro lugar do ranking, em termos de ensino.
Creio que assim conjugamos as duas situações, o que é bom para o Voleibol e para as atletas. Existe muito entusiasmo da parte das atletas e do colégio porque as atletas não estão só a treinar e a jogar para ter algum resultado desportivo mas sentem-se apoiadas para a sua vida futura em termos escolares. Quantos mais projectos como este existirem a nível nacional, melhor, porque temos todos a ganhar e, com certeza, deixaremos de ter atletas no Voleibol feminino a acabar a sua carreira aos 22 e 23 anos de idade”.


O Voleibol feminino atravessa um momento de mudança?

MM: “O meu conhecimento sobre o Voleibol feminino não é profundo. Só este ano é que me comecei a inteirar sobre o que se tem passado, sobretudo nas camadas jovens, e o que vejo é que existem muitas atletas altas e muitas atletas com qualidade. E podemos ver que esta selecção de cadetes é uma fornada com muita qualidade.
Vejo atletas muito competentes e com um futuro promissor. Agora, o que é preciso é que haja uma continuidade, porque quase todos os projectos de Voleibol, sobretudo no feminino, têm uma duração de vida de um ano ou pouco mais.
Desse modo, as atletas sentem insegurança e acabam por enveredar só pela parte dos estudos, pela profissão que querem seguir, como é normal, e acabam por se desleixar e perder a vontade de querer continuar a jogar Voleibol e por isso é que se vê muitas atletas a desistirem aos 22, 23, 24 anos.
É isso que nós queremos combater. Queremos dar mais confiança às atletas; elas têm que sentir que este projecto é seguro e tem futuro, não se limita à parte desportiva, pois aqui também podemos encaminhar atletas para uma universidade ou outra, através de protocolos.
Nesse sentido, creio que todas as partes envolvidas vão ficar mais entusiasmadas e vão dar muito mais de si à modalidade”.


Normalmente, nestas idades há uma certa resistência por parte dos pais a um projecto deste calibre e nível de exigência...

MM: “A Direcção do Colégio e a Direcção do clube Rosário Vólei ponderou todos os procedimentos e todos os passos que dá estão em sintonia com os pais, que são os primeiros a tomar conhecimento do caminho que estamos a percorrer.
Neste caso particular do Voleibol, o entusiasmo também parte dos pais e nós, os treinadores e os próprios atletas, sentimos isso. Os pais vêem que este não é apenas um projecto desportivo mas um projecto para a vida dos seus filhos, que dele irão tirar dividendos no futuro e nas suas profissões”.


A coordenação de um projecto destes implica um bom trabalho de equipa...

MM: “Acima de tudo, temos o Presidente do Clube e Director do Colégio, o Dr. João Trigo, que é uma pessoa extraordinária, competente, ambiciosa e que tem sido o grande mentor deste projecto. E que está sempre presente, o que não é normal, e só isso dá para gerar mais entusiasmo nas pessoas envolvidas no projecto, pois todos sentem que têm um apoio na retaguarda e que lhes são dadas todas as condições para poderem subir ao mais alto nível.
Existe sintonia entre todas as partes – treinadores, atletas, os próprios pais – e considero que isso é mais uma vitória para este projecto. Projecto que está a começar - tem meio ano de existência - mas estou convencido, com o histórico que estamos a ter, com os resultados e com o entusiasmo e a ambição que estão a ser gerados, que vamos ter muitos mais êxitos.
Se outras instituições se mostrassem interessadas em abraçar um projecto semelhante, o Voleibol feminino iria crescer muito em Portugal e todos, como a Selecção Nacional, iriam ganhar muito com isso”.


Como é a vossa semana de trabalho?

MM: “Reunimo-nos todas as quintas-feiras com os treinadores e fazemos uma abordagem a tudo o que se passou durante a semana nos treinos e ao fim-de-semana nos jogos.
Depois, perspectivamos e programamos o fim-de-semana seguinte, tratando de toda a logística que é necessária e definindo as atletas que serão necessárias em cada escalão, porque temos atletas que fazem dois escalões ao fim-de-semana e tudo tem de ser muito bem organizado. Penso que é muito importante para o projecto haver situações destas, com a realização de reuniões onde são trocadas ideias.
Estamos a falar de uma modalidade em que praticamente não existe este tipo de abordagem em nenhum clube.
Creio que estamos no caminho certo, pois conseguimos matar à nascença várias situações que poderiam estar a prejudicar o bom andamento do projecto e acabamos por crescer de uma forma mais sustentada com aquilo que vamos abordando semana a semana.
Como Director Desportivo, tenho várias reuniões com o Presidente do Rosário Vólei e praticamente todos os dias abordamos soluções que nos permitam ir crescendo cada vez mais. É um projecto que tem um ritmo considerável, apesar de, para já, ser só de escalões de formação”.




 Treinadores e atletas de acordo: Campeões em formação



Ricardo Bacelar, Treinador Principal da equipa de infantis

É correcto dizer-se que este escalão é crucial para as atletas começarem a entender o que é o Voleibol?

“É uma idade fundamental para elas aprenderem os primeiros conceitos e trabalharem a técnica de base para, daqui para a frente, poderem desenvolver o desporto em si. Têm de trabalhar muito, de ter muito contacto com a bola.
O Voleibol já existe há 10 anos no Colégio, mas este ano a sua Direcção apostou mais forte em alguns escalões, sobretudo em Cadetes, Juvenis e Juniores para, a partir do próximo ano, conseguir ter todos os escalões de formação até aos seniores.
Neste momento, estamos apurados para o Campeonato Nacional, que foi um aspecto muito positivo para esta equipa.
Elas trabalharam muito bem e agora, no Nacional, vamos defrontar as melhores equipas, o que será muito benéfico para as jogadoras porque dessa maneira terão todas as condições para evoluir”.


Rui Moreira, Treinador Principal da equipa de cadetes

O que mudou na forma de treinar e originou o aparecimento de resultados?

“Este grupo de trabalho, na sua primeira fase, era bastante heterogéneo. Tínhamos algumas atletas com um nível de desenvolvimento já elevado, atletas da Selecção, e tínhamos outras com um patamar de desempenho baixo para o escalão em causa.
A nossa primeira preocupação foi tentar aproximar esses dois níveis. Inicialmente foi bastante difícil, mesmo em termos de treino, conseguirmos rentabilizar tudo isto, porque tínhamos atletas com conceitos, conhecimentos e conteúdos de jogo e de treino bastante elevados e tínhamos outras que ainda estavam a dar os primeiros passos.
A partir do momento em que conseguimos aproximar esses dois níveis, principalmente com o crescimento das atletas mais carenciadas, automaticamente conseguimos implementar e aumentar a qualidade de treino e a qualidade de trabalho.
Os títulos, como é lógico, aparecem sempre com trabalho. Eu não acredito que alguém ganhe no desporto sem trabalho. Há pessoas que têm mais trabalho, um trabalho diferente.
A vinda de atletas de outros clubes sem dúvida que veio ajudar-nos, acrescentar valor, experiência e qualidade ao grupo, pois acabam por ser o suporte de outras atletas com as quais treinamos e trabalhamos.
Os resultados são a soma de tudo isso”.
 

João Brenha, Treinador Principal da equipa de juvenis

O futuro do Voleibol feminino pode passar por um projecto deste género?

“É perfeitamente viável que isso aconteça, porque estamos a falar de um desporto escolar.
Eu defendo, há já muitos anos, que as escolas deviam dedicar-se aos desportos até os atletas atingirem a idade de 15 anos e depois estes prosseguirem a sua actividade nos clubes. O Colégio do Rosário tem a oportunidade de fazer esse tipo de trabalho, uma vez que é uma instituição de ensino e os atletas estudam durante o dia e a partir das 17h00 estão livres para praticarem, neste caso concreto, Voleibol.
A evolução do nosso desporto, numa fase conturbada como esta, em que os clubes se deparam com grandes problemas financeiros, passa muito por um desporto escolar forte, mas é claro que isso implicava uma reestruturação total no Ministério da Educação e não sei se os seus responsáveis estão preparados para fazer essa mudança.
O Colégio tem o objectivo de fazer uma equipa maioritariamente composta por atletas aqui do colégio e nós estamos a trabalhar nesse sentido, com os olhos não só no título nacional mas também no futuro, na formação de grandes atletas capazes de jogarem na alta competição e de atingirem a Selecção Nacional”.


José Moreira, Treinador Principal da equipa de juniores

As juniores parecem ter uma dupla missão: vencer o Nacional e preparar uma eventual equipa de seniores...

“Quando se trabalha na formação, o grande objectivo deve ser sempre uma equipa mais acima, neste caso, nas seniores, para que as atletas tenham esse espelho, onde consigam ver que mais tarde poderão dar continuidade ao trabalho que estão a desenvolver.
Toda a ideologia que esta Direcção está a incutir para a concretização de um futuro do Voleibol nesta instituição está já com alguns alicerces.
Claro que tudo é muito discutível e temos que ser ambiciosos e pedir sempre mais, para crescermos e para que o futuro seja seguro e sem grandes percalços, principalmente na prossecução do objectivo máximo, que será uma equipa de seniores.
Já numa entrevista que dei, na década de 70, ao jornal O Norte Desportivo defendia que o Voleibol devia começar nas escolas e ser jogado só nas escolas até ao escalão de juvenis, pelo que acredito que o Colégio do Rosário está no caminho certo.
Já se trabalha bem na formação em algumas instituições em Portugal, até porque dessa forma os próprios alunos entram no Voleibol mais facilmente.
Sabemos que os clubes têm grandes dificuldades na formação, não só nos espaços, como nos treinadores e mesmo na parte financeira, e as instituições de ensino partem com mais facilidade para esse caminho e para essa formação.
Penso que outras instituições que estão ligadas ao ensino deviam apostar forte na formação, pelo menos até ao escalão de juvenis.
Temos já um grande exemplo na Escola de Lamaçães, em Braga, com vários títulos conquistados, e que a partir de determinado escalão, as atletas vão para o clube da terra”.




 Testemunhos



Renata Oliveira, 16 anos, Sub-capitã da equipa de juvenis:

“Vim do Clube Desportivo de Fiães e este ano estou a integrar pela primeira vez o grupo de trabalho das juvenis do Colégio.
O nosso dia é perfeitamente normal: estudamos durante o dia e treinamos das 18h45 às 21h15.
Os treinos estão a correr muito bem. A equipa tem superado todos os obstáculos, uns com mais dificuldade do que outros, mas no global os objectivos têm sido atingidos.
O título regional foi uma recompensa por todo o trabalho desenvolvido até agora por esta equipa de juvenis e pelos outros escalões que também conseguiram alcançar títulos regionais.
A aposta forte que o Colégio do Rosário fez nestas atletas, leva-me a acreditar que o projecto tem, como se costuma dizer, pernas para andar.
A nível da formação penso que estamos num caminho óptimo e quem sabe as atletas que virão a integrar as seniores não terão o mesmo êxito.
Na nossa equipa, o ambiente é muito bom. Damo-nos todas muito bem. Nunca houve nenhum conflito, ou os que existiram foram de pouca importância. Acima de tudo, criou-se um grupo unido e que está preparado para enfrentar as dificuldades.
Como é que definiria o meu trabalho aqui? Gratificante!”


Francisca Liz, 15 anos, Capitã da equipa de cadetes:

“Já pratico a modalidade há 10 anos. Sou de uma família com algumas tradições no Voleibol. A minha irmã mais velha (Catarina Liz), que foi internacional pela Selecção Nacional, começou a sua formação no Boavista FC, transferiu-se para o Gueifães e agora regressou ao Boavista.
Estou no Colégio do Rosário há quatro anos, depois de ter jogado 6 anos no Boavista,
Esta época assisti a muitas mudanças, que se traduzem no nível de exigência dos treinadores, numa evolução maior nas atletas, comparativamente com os outros anos, e no número de vitórias, que também está a aumentar muito.
Os exercícios são mais planeados e adequados às necessidades de cada jogadora, daí que tenha havido um desenvolvimento da parte técnica.
O título regional foi um grande choque para nós, pois foi a primeira vez que o Rosário ganhou um título. Foi um momento que nos marcou muito e que nos deu uma grande alegria.
Foi óptimo, mas também nos aumentou a responsabilidade. A pressão agora vai ser maior, pois temos o Campeonato Nacional à porta e teremos de dar tudo por tudo para vencer.
Em princípio, os adversários mais fortes serão o Leixões SC e, se chegarmos a jogar com elas, o Sagrado Coração de Maria, de Lisboa.
Acho que ainda não estou ao nível de entrar para a Selecção Nacional, tenho de evoluir muito, mas representar Portugal seria a concretização de um dos meus maiores objectivos no Voleibol.
Unida é a palavra que melhor caracteriza a nossa equipa”.


Março 2013


 

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